Perdido
Ando perdido neste mundo escuro,
Breu de praia, de relva, de sorriso incerto.
Turbilhão de fatos, escolhas mortas sem futuro.
Metas cegas e certezas férteis no deserto.
Encaro, com temor, o destino bem de perto.
Beiro à margem de outra lágrima e juro;
Que na vida o medo mais latente e mais duro
Por mim encarcerado será por mim liberto.
Perdi-me nos olhos negros da incerteza,
Cujos sinuosos rumos costuram outras vidas
Descobrindo histórias, versos e segredos.
Perdi-me nas escadas de minha própria fortaleza,
E o único fim no caminho de corredores e subidas
É o fúnebre encontro dos meus medos.
Cada vez que recruto minhas loucuras, viagens e anseios com a experiência de qualquer coisa que não tenho, extraio disso uma destilação surreal. Escrevendo, sublimo essa coisa pelo ralo. A vagar por bueiros, ela encontra todo tipo de destilados da cidade, dos santos aos psicopatas. A amálgama humana se mistura, formando o mais intenso e real do pensamento e vai à superfície buscar as narinas dos transeuntes, mas são retidas pelas tampas dos bueiros que friamente censuram o regresso das idéias.
Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..
4 de junho de 2007
Soneto - Perdido
Postado por
Vitor Machado
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3 comentários:
É muito interessante 'confrontar' os anseios do poeta com o resultado do poema. O convívio que estabelecemos permite que eu tenha um pouco desta experiência. Visito seu blog e acompanho – talvez isso seja fruto do meu imaginário – extensões de algumas de nossas conversas: o que considero uma grande honra!
É bonito pensar que o "massaró" de divagações que você produz, quando bem trabalhadas (que é o caso de sua literatura), às vezes não fica à vontade em palavras faladas; às vezes se encontra ou, talvez, se esconda melhor em sua poesia...
Muito bem, Machadinho, estimado companheiro, não arrisco análises mais profundas por motivos óbvios a quem me conhece: sou uma negação com sonetos, poemas, poesias e afins. Posso, no entanto, afirmar que gostei muito deste onde posto meu comentário.
Grande abraço.
Uau Machadinho....
Lindo..sensível...profundo e intenso como a sua natureza...rsrsr
bjkinhas
mirca
Lindo soneto!
Refletindo junto.... desrespeitando os critérios cronologicos... tempo e espaço!
Compartilho meus pensamentos e traço uma paralelo. MILÁGRIMAS e Perdido... não é a semelhança entre os dois... mas sim a forma de encarar a PROCURA.... pois penso que estar perdido, só é possível, por estar procurando!
E o encontro dos medos é um milagre.... que pode sair entre versos, sonetos, textos, poemas e lágrimas.
Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre
Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre
bj
Ré
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