Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

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10 de abril de 2012

Quero a memória de onde não fui

Não. Nunca fui à Bahia, mas posso sentir...ou seria senti-la? No acorde agudo de uma guitarra velha, ou na letra atônita de uma alma desesperada.

Quem forma moral é quem mora na fôrma. Quem sai da fôrma desmoraliza...e forma muito mais. Informa, contorna, se torna...sai da água morna. Hoje sou baiano...de alma e de forma. E, para dizer a verdade nunca tive apreço pela Bahia, mas sua rauseixibilidade canta em mim mais alto que Bach, que escola de samba, que o ensurdecedor ruído do universo.

Ontem tive medo de perder a memória.

Me disseram que eram cem reais a menos para pular de paraquedas sem fotografia e filmagens...tive medo. Não quero fotos. Não quero filmes..quero minha memória..só! Tenho este direito.

À parte disso, sempre quis ser fotógrafo. Não de mim, nem dos outros...mas dos outros que existem dentro de mim. Olhar na íris da mazela de quem oprime. Ver o mundo como o menino que segue a trilha de formigas para ver qual a verdade por de trás delas. Quantas memórias de lugares jamais idos há na retina de quem fotografo sem conhecer? Quantas Bahias?

Quando ouço Raul cantar 'o trem das sete" sou capaz de estar dentro...talvez eu esteja. Um trem para a Bahia de Raul, de Vinicius, de Caimi, de Tom, Gil, Bethânia. Só a memória me permitiu dizer estes nomes e continuar batendo os dedos nesta máquina. Batendo os dedos na porta da Bahia. O convite ao determinado beco que eu já passei e que não tornará a ouvir os sons dos meus passos.

Não. Sem memória não há beco...será que ele lembraria? “E se lembrar o que lembraria?”...um pé que nunca foi à Bahia... nem a Portugal, nem aos vinhedos argentinos. Mas já esteve aonde sua sola encostou. E são lugares inimagináveis...indizíveis e, entretanto muito, mas muito dentro do nada.

Fernanda, Jehniffer, Caroline, Kelly, Raquel, Juliana, Karen, Nadja, Camila, Fabiana...hoje são sombras em relevo da minha memória de fatos e de desejos. Tudo que tinha que ser chorado já foi chorado. A alma da Bahia chora. E eu? Acho que chorarei o medo. Medo que a vida me roube a única coisa que tenho...a memória.

A condição de lembrar é estar vivo...será?

Não. Se eu sentisse estaria na Bahia. Ou será que estive? Cada vez que eu me despeço de uma pessoa, pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez...bem vinda seja. Quero andar também...me ensine. Quem sabe eu não chego na Bahia? Achar a memória daqueles que choro e perder a minha memória em torno de um toque de dedos, Em torno daquelas que não vivi mas me fazem viver...aquelas Bahias.

O lado de dentro...sublime

O lado de dentro...sublime