Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

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19 de março de 2010

História Rara (fragmentos de um roteiro)

EsEs

Estive ausente um tempo de escrever aqui, mas não parei. Estou em um desafio de escrever o roteiro de um filme. Um trabalho grande e um ótimo exercício. Postarei aqui uma cena que está em uma das muitas que já estão escritas. Em breve, quando concluir a estória, pretendo publicar para as três pessoas que lêem esse Blog

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CENA 63: EXTERIOR. CALÇADA DO BAR – NOITE

PLANO ABERTO - BAR com mesas de madeira espalhadas na calçada. Os pedestres caminham entre as mesas lotadas de pessoas rindo e conversando.

ÂNGULO PLANO: Câmera caminha pela calçada até encontrar CHICO e CLAUDIO. Eles estão em lados opostos da mesa rente ao meio fio. Cada um folheia um livro e bebericam seus copos de cerveja.

CÂMERA OBJETIVA: CHICO olha as pessoas e para em Claudio (folheando o livro)

CHICO

Eu acho que não entendi muito bem o livro Claudio. Também não quero que você me explique. Para mim Rara de fato não parecia lúcida ao andar por Paris.

CLAUDIO

É! esse é um fato, mas vai além.

CHICO

Gostei muito daquela história de Rara ser o começo da palavra esperança e ela falar. Não por que é esperança, mas por que é o começo.

CLAUDIO

Se pensar bem, todos nós somos um começo a todo tempo. Ela mostrou isso.

CHICO

O ensaio sobre a loucura também achei muito bom.

CLAUDIO

Essa é uma outra coisa. Afinal ela estava louca ou não? O que é a loucura. Os dois estavam loucos naquela história.

CHICO

E onde está o acaso objetivo nisso?

CLAUDIO

Ora, todas as coisas que ela vai encontrando, as fotos que vai tirando, as estátuas, quadros, etc. Tudo isso vem ao acaso e constrói ela de uma forma.

CHICO

Vou tomar a liberdade de interpretar de outra forma. Mas entendo o que está falando.

CLAUDIO

Interprete como quiser, afinal as pessoas também são como quadros, estátuas e fotos. Constroem a gente. Assim como interpretamos a arte interpretamos os outros.

CHICO

As pessoas são arte, mas a obra delas não é.

CLAUDIO

Tudo se interpreta.

CHICO

Eu leio isso aqui e não me faz sentido nenhum. Esse livro que você trouxe. Olha, e “a insígnia do jarro ateniense” que complicação.

CLAUDIO

Tudo bem. E quem disse que deve fazer sentido?

CHICO olha o livro, o copo, acende um cigarro olhando para CLAUDIO e levanta a mão indicando ao garçom mais uma cerveja. Olha novamente para CLAUDIO e solta a fumaça densa pelo nariz.

CHICO

Tudo bem, não precisa fazer sentido. Me esforço para aceitar essa idéia. Mas se não fizesse sentido essa escola não seria teorizada, não teria um nome. Ou este nome engloba todas as coisas que não fazem sentido?

CLAUDIO

Não, existem pontos em comum que formatam essa escola. E não é não-fazer-sentido que dá sentido. Eu só disse que isso não importa.

CHICO

Certo.

CLAUDIO

Por exemplo, às vezes você está lendo e sua cabeça te transporta para outro lugar que te diz uma coisa. Quando você vê está no fim da página e não lembra nada do que leu. Mas sua cabeça estava em algum lugar.

CHICO

Isso me acontece de vez em quando.

CLAUDIO

Isso é o que eu mais gosto nesses poemas surrealistas.

CHICO

haha, o que você mais gosta não é exatamente dele. No mínimo intrigante.

CLAUDIO

O que mais gostamos é o que nos desperta, não a natureza intrínseca das coisas.

CHICO(pausa longa)

É! o que eu gosto nessa cerveja não é o gosto ou a cor. É o efeito!

GARGALHADAS

CLAUDIO

E você está fazendo exatamente isso com ela.

SILÊNCIO

CHICO

O quê? Como assim?

CLAUDIO

Você está apaixonado por uma pessoa que sequer existe pra você, embora exista para o mundo. A única coisa que você conseguiu dela foi que seus olhos a vissem, nada mais. E ainda assim você está apaixonado. Talvez o que você mais goste não seja exatamente dela. Intrigante isso né?

FUSÃO PARA:

CHICO e CLAUDIO se despedindo, meio bêbados. O bar vazio assim como as ruas. Cada um vai para um lado.

PLANO ABERTO: CHICO caminha sorrindo para casa.

O lado de dentro...sublime

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