Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

18 de outubro de 2010

Gustavo tinha razão



- Tome, leia, acho que vai gostar.

Assim o recebi. Antes de terminá-lo – sete dias antes para ser mais preciso - e sete meses depois de tê-lo ganho, Gustavo me disse outra coisa:

- Sabino te deixa com a sensação de que escrever é fácil.

Confesso, tinha razão nas duas colocações. A muito não chorava ao ler um livro, e neste livro também não chorei, embora ressentisse e sofresse junto. Um sofrimento muito pior que uma lágrima pode representar. A mão do futuro sobre meus os ombros. A história de “Encontro marcado” é a história de todos nós. História de alguém que nasceu, brincou, questionou, teve sonhos, sentiu, teve amigos fiéis, se embebedou, casou e buscou a comunhão com ele mesmo. O mais puro sentido de solidão do qual fugimos às vezes, mas por pouco tempo. Mais que uma história, um lembrete de uma bandeira que um dia ergui sem saber ao certo porque, mas que hoje eu mesmo fiz questão de não abaixa-la, e sim pinta-la de outras cores. A finitude das coisas é a única certeza que podemos ter. Mas, saber da finitude é automaticamente estar em um novo começo. A vida vista sob este ângulo pode parecer um tanto quanto previsível, mas, quem foi um dia que disse que ela não é?

Chegou a hora, mocidade velha, cansada, desnorteada, exaurida.... quando chegará seu fim? Quantos séculos de angustia coletiva te fizeram? Quantas horas de aflição foram vividas, quantos corações se extenuaram no amor e na esperança para te entregarem desamparado ao mundo novo? E que será de ti neste mundo? Perguntas sem resposta e sem sentido largadas na praça avermelhada pelo crepúsculo. Um livro cem vezes começado, um filho abortado, um amor dissolvido. Para isso vivemos. Queria eu poder não dar razão às pessoas como a minha velha presunção me impeliu a fazer nestes curtos anos de devaneios. Presunção que, mais uma vez, Gustavo tinha razão.

Apesar de ambos não sabermos ao certo qual a razão do que, como não querer sorver as coisas que aí estão? Se reconstruir a cada passo. Se é para cair, caia. Escorregar é coisa mal feita, assumir o preço da escolha é também um processo de humanização. O anonimato foi ou é a antevisão do paraíso... andar desconhecido e livre pelas ruas sem ser identificado, talvez isso assuste a muitos. Se nos assusta a velocidade do tempo ou a lentidão com a qual mudamos é porque talvez tenhamos sido feitos para ver o tempo passar devagar e viver mais rapidamente a transformação. Se nos assustamos é porque subvertemos algo, no atraso do trabalho, nas horas a fio dentro de bares até que o dia nos expurgue. Subverter seja talvez a semente do susto, da insônia, ou da cabeça perturbada. Assustou-me de fato a verossimilhança daquela vida com a minha. Talvez um passo para me sentir velho, mocidade velha, talvez ainda um passo maior para me sentir jovem e filho do meu tempo. Como não engolir a fumaça e encher o copo de uísque vagabundo neste momento?

Fato é que aprendemos. Tentamos ver na vida alheia nosso espelho e nosso afastamento dele. Assim, mais um livro, menos um segundo, mais um copo, menos um dinheiro, mais uma razão, menos uma presunção. É isso meu caro, no mesmo estilo de sempre com o assombro do previsível que mais que a Física, a literatura e a poesia me mostraram, pretendo ir indo. Agradecendo antes de tudo as boas reflexões entre um lado e outro da tampa onde tenho fluido. Um brinde a elas e obrigado.



4 de outubro de 2010

Recém chegados


Eles eram recém chegados.

Não aqueles recém chegados de viagem,

embora ambos tivessem

muitas viagens e muitas chegadas.

Aliás, estavam presos pra falar a verdade.

Presos por sonhos resignados

Que nem sabiam ao certo quais

Mas eram presos e recém chegados.


Nada os impedia de nada a bem da verdade,

embora nada também os impedisse de Tudo.

Aliás, tinham expectativas

De sonhos e de tudo mais.

Há quem diga ser um mal

Essa tal de expectativa.

Mas a tinham.


O que havia entre os dois

Não era bem uma Verdade.

Embora fosse verdade haver algo entre os dois

Um olhar lustroso, singelo... lacônico.

Aliás, um brilho gostoso de se ver,

mas que só viam poucos

no caso...eles...um ao outro

Presos e recém chegados.


As poucas palavras trocadas entre os dois

Eram palavras como outras quaisquer,

Embora fossem só deles, cheias de expectativas

Um certo desprendimento é verdade.

Escapulido em cada sorriso.

Aliás, o sorriso os prendia um ao outro.

O sorriso dos recém chegados.


- Chega aí companheira!

- Ooooo meu chegado!

Não, não eram esse tipo de recém chegados

Embora se fossem, seria mais fácil de se achegarem.

Eram recém chegados

de um outro lugar de dentro deles.

Onde estavam presos.


A expectativa dos dois recém chagados

Era a mesma, talvez

Mas a temiam acima de tudo

Embora tudo que estivessem acima deles

Não temessem.


Acho que eles se desejavam ou se desejam.


Os dois eram recém chegados de outras histórias

Cheias de expectativas, prisões e verdades.

E, embora ainda mantivessem as três coisas dentro deles

Não mantinham mais a Outra história.

Então nada os impedia

De chegar mais perto um do outro.

Mas estavam pertos, é verdade


Olhos pertos

Palavras apertas

Sorrisos espertos


Se houvesse problemas

que os impedisse de chegar perto um do outro

Seria por serem recém chegados

Ou esse monte de palavras repetidas

Expectativa, verdade, um, outro

Tudo, nada, chegados ....recém

Presos.


Pra falar a verdade não há problemas

Embora as expectativas

Os fizessem sorrir e olhar um ao outro

languidamente....

Os recém chegados precisavam chegar


Chega! os dois!

É tudo ou nada agora!

Prendam-se de vez!

Há um novo Recém lá fora

Sem ressentimentos.

Sem emboras

Sem ir embora

Que tal?

Simbora?



O lado de dentro...sublime

O lado de dentro...sublime