Cada vez que recruto minhas loucuras, viagens e anseios com a experiência de qualquer coisa que não tenho, extraio disso uma destilação surreal. Escrevendo, sublimo essa coisa pelo ralo. A vagar por bueiros, ela encontra todo tipo de destilados da cidade, dos santos aos psicopatas. A amálgama humana se mistura, formando o mais intenso e real do pensamento e vai à superfície buscar as narinas dos transeuntes, mas são retidas pelas tampas dos bueiros que friamente censuram o regresso das idéias.
Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..
10 de julho de 2011
Ode aos perdões
Perdoe se te excomungo as vezes.
No seio da cruz em que nasceste.
Escorrendo pela montanha
seu povo e sua terra percebeste
que sua história não estaria ganha.
Perdoe por ter te visto pobre
entre torres de um canto silencioso
entre fados e grilhões vi que és nobre.
no sacrilégio de sua romaria
assustou-me como jamais me assustaria
Perdoe aqueles que te esquecem.
Se te tomam por esquecida
é que só lembram do que sofrem.
São migrantes entres estradas e clarões;
são ingênuos operários dessa vida.
Perdoe também a incompetência
dos que um dia te usurparam
pela cruz, pela arma ou pela caneta.
A ti somente levaram à decadência
somente a decadência lhe deixaram.
Perdoe aos que quiseram partir.
A terra onde fixara suas raízes
é vasta, desumana e cruel.
Seus filhos se vão à outras marquises,
pois oportunidades não caem do céu
Um povo entretanto te faz o perdão.
Um pedaço de natureza
não se faz por arvores ou cachoeiras.
A história de sua dor e sua pureza
é banhada por pessoas verdadeiras.
Daqueles a quem cedera chão
espere de tudo sem pedir,
o escrutínio, o roubo, o amor
pois eles operam sua construção,
eles que te podem devolver o louvor.
Te fizeram a custo em muitos anos
e continuam com talha trabalhando.
Perdoe aos que talharam mal
mas lembre: muitas vezes são dos danos
que sua história vai se edificando.
Pessoas são tantas e muitas.
Podem continuar a te ferir,
mas deixe aqueles que te fazem
buscarem seus heróis que jazem.
Resgatar, guardar, seguir.
Perdoe-me por temer por seu futuro.
Quero te recriar a partir de agora.
É o mundo não é mais puro,
e quando abraçado com ele for embora
que seu acervo esteja bem ….seguro
Perdoe, por fim, a si.
Perdoe-se por carregar tamanho nome.
Nem todos podem ser Bons.
Nem todos em Jesus creem.
Nem a todos seu Perdão consome.
Perdoe-se, mas perdoe-se com fé.
Se tua flâmula contém o perdão,
contém junto o pecado.
Contém o mal, a briga e a traição
para que seu ato possa ser perdoado.
Perdão por não te perdoar.
Perdoe-me por não te ver.
Perdoe-se por existir.
Perdoe-nos por te reconhecer,
mas não perdoe quem quer te apagar.
Postado por
Vitor Machado
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Um comentário:
Nossa, Vitão.
Lindo!!
Arrepiei, de verdade.
Muito bom!! O conjunto: a voz, a idéia, a música e principalmente a mensagem.
Adorei =)
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