Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

24 de julho de 2011

O jazigo da esperança - Capítulo 5

Capítulo 5

“Olá, não sabe certamente quem eu sou. Talvez eu não saiba quem você é. Mas te vejo todas as manhãs e tenho a sensação de que estamos diante do inesperado que conduziu nossas vidas para o mesmo lugar e o mesmo tempo. Reafirmo isso toda vez que vejo seus dentes aparecerem. Eles me dizem algo. Não sei ao certo o que é, mas tenho a impressão de que seja simplesmente a paz.”

A espera é absurda, terrível na qual não se sabe qual objeto mudar de lugar, que gesto repetir, que coisa para fazer que chegue a pessoa esperada. Por fim, chega um carro. A face que se observa ilumina-se. Diante da eternidade. É ela. Afasta levemente os braços que a estreitam. Cabelos pretos, jovem, olhos esplêndidos, onde há langor, desespero, finura e crueldade. Esbelta, trajada sobriamente, um vestido de cor escura, meias de ceda preta....Sua grande frieza aparente contrasta tanto quanto possível com a recepção que lhe é peculiar. Ela ma disse seu nome, Rara, por que em bahasa é o começo da palavra esperança, e porque é um começo.

- Está devagar o movimento? - Claudio chega na loja.

- Pois é, estava lendo o livro, vou terminá-lo. Tem muitas coisas que me chamam a atenção embora, como eu disse, entendo pouco. Mas entendo o mais importante: Rara não é uma mulher comum – Chico sentia ao mesmo tempo dentro do livro lido e parte de uma história surreal.

- Acaso objetivo meu amigo.

Talvez fosse, talvez não, talvez a vida fosse um engendramento de desencontros e encontros. Talvez todas as pessoas vivessem um organismo desenfreado de fatos sobre fatos. Talvez houvesse algo místico, talvez apenas acaso. Esbarrões com o tempo e o espaço para que na história do universo viessem a existir e a estar ali, no mesmo tempo e no mesmo lugar olhando-se. Somente a força deste evento seria arrebatadora, havia mais, porém. Chico sentia, precisava conversar com Rara.

Mais um dia nublado em Pálpebus e Gomes entra no auditório sem olhar os outros. Chico espreita as sombras atrás dele. Rara está lá, com uma camisa branca e uma calça preta. Sua finura é cruel. Sozinha, dolorosamente sozinha. Chico pensava em lhe deixar um bilhete, em lhe falar na rua ou em um jeito de conseguir escrever. Entre dúvidas a resposta se mostrou na sua frente. Enzo lia algum livro na sua frente. Ao ter tal ideia não conseguia se conter em uma explosão de ansiedade e perspectiva.

- Está no livro, em Mônus as leis são diferentes das que temos aqui. Esta é uma questão central para entendermos – Gomes iniciava sua fala sem preocupação com cumprimentos – São leis diferentes porque são lugares diferentes e jeitos de vida diferentes. O mais curioso é, por que é o mesmo conselho administra tudo. Não é nada simples, mas melhor tentarmos. Como vocês já sabem o conselho é formado desde de seu estabelecimento em 2062 por presidentes de grandes corporações. Essas pessoas tem alguns interesses centrais, entre eles, continuar vendendo seus produtos, morar em uma cidade deles sem ter contato com nós, cuidar dessa cidade para que a vida se torne agradável. Lá não se arranca nenhuma árvore, se trata toda a água, entre tantas outras coisas. Quando uma pessoa vai à Mônus já tem função garantida assim como moradia. Essa forma de organização não é nova. Nas fábricas desde o século XIX homens tinham funções definidas para que tudo desse certo. De certa forma este modo de organizar a cidade reflete muito como, historicamente as pessoas formadoras dos conselhos agiam. Para que tudo funcione como uma engrenagem, precisa-se de leis, ou um código de conduta para os moradores.

Chico escrevera em um bilhete “preciso falar com você depois, aceita um café? As 13 no térreo do shopping345”.

- Quer entender Mônus entenda a história das empresas e indústrias. Poderíamos dizer no século XX, por exemplo, que os moradores de Mônus são funcionários de uma grande empresa cujo produto é a satisfação de sonhos, e o que vocês querem aqui é fazer parte desta empresa. Alguém, mais radical poderia dizer que as pessoas lá estão presas e escravizadas a uma função sendo tutelas pelo conselho da mesma maneira que negros, indios e prosioneiros foram até o século XX em diversas culturas. Sim, as duas hipóteses podem ser verdadeiras, o fato não altera a condição de quase todos quererem isso. Porém há um outro lado. O mesmo conselho designa leis para manter a perfeição de Mônus e designa outras leis aqui. Isso porque Mônus jamais existiria sem Pálpebus, sem as pessoas daqui. Para um viver bem o restante do continente garante a manutenção da ordem. Pensem em tudo nesta sala, suas roupas, seus talks, comida, cinema, tudo precisa ser comprado e eles vendem.

Chico viu o bilhete voltando abriu e leu “Você não faz meu tipo, mas aceito o café”. Não sabia se era uma gozação, ou se de fato aquilo se tratava de um erro de comunicação.

- Estímulo da competitividade, da diversidade, afrouxamento das penalidades legais entre tantas outras coisas encontradas aqui tem seu fundamento. A natureza humana, como sabemos, é selvagem, em um lugar com leis leves as pessoas menos informadas se digladiam, querem se mostrar mais capazes, ou mais bem-sucedidas, ou ricas. Isso é, em essência garantir o funcionamento de Mônus. Lá, por mais que o conselho mude conforme as cotações de poder de cada um ou compra do cargo por outros, essa lógica estará sempre unindo as duas cidades. Por motivações particulares, pessoas frustradas tentam, ao longo da história destruir Mônus ou sua forma de organização para que não exista mais esta divisão. Recentemente tivemos um bug na rede de controle social e para desconforto dos terroristas nada foi alterado em Mônus. E nada foi alterado por um motivo simples o qual alguns de vocês já devem supor. As pessoas lá, são todas educadas para viver lá. Se algo foge à regra as pessoas sabem o que fazer. A perturbação, afinal poderia afetar suas vidas e ninguém quer isso. Sempre defendi e continuo mantendo minha posição, frente ao disposto hoje, a pior forma de terrorismo é o ideológico, não adianta explodir bombas, causar medo, somente haverá mudança em algo se houver uma inversão na educação de Mônus, e isso certamente não acontecerá.

As falas de Gomes sempre eram indeléveis à Chico. Não saber de um atentado lhe causava uma insegurança. Como se vivesse de olhos vendados sem condições de juízo dos acontecimentos e estes por não serem noticiados tornavam-se fluidas estórias manipuladas....nada era certo. Quantos eventos ocorriam no mundo e sequer se sabia. Não havia forma de saber, somente estando presente no momento do evento. Por longos minutos Chico desejou sair daquele treinamento e entrar em Mônus para ter certeza das palavras de Gomes, pois ele, ali, julgava-se mais consciente, embora sua ação fosse controlada com uma bomba junto ao baço. Ao término, quase esquecendo-se do seu plano e de Rara, Chico encontrou Jorge na saída e lhe convidou para o almoço e o café.

- Tenho que tomar esse aqui sem açúcar se não dá para levar a tarde toda estudando.

- Sabe o que é bom? Mistura isso aí com coca-cola. Você ficar umas horas sem nem vestígio de sono – Chico sentiu certa frivolidade em sua frase, envergonhou-se em silêncio.

- Nossa! Mas em compensação alguma coisa ruim deve acontecer.

- Sempre quis entender porque você quer tanto ir a Mônus. O mesmo motivo de todos? Prosperar? - Chico queria entender os motivos de todos. Havia dias de inquietude nos quais ele tinha o hábito de mudar radicalmente o assunto de uma conversa.

- É simples. Pense em algo que goste muito, e você deseja fazer isso sua vida, tendo uma esposa e condições de ver seu filho crescer em um lugar limpo, sendo educado e tendo comida de verdade – disse Jorge com seus olhos puxados e longas olheiras – aqui não há isso, não poderia ter uma vida minimamente digna sem estar em um lugar minimamente digno. Esse lugar é Mônus e para entrarmos lá, temos de jogar o jogo. Isso que estou fazendo. E além disso há uma pessoa lá a minha espera, para nos casarmos, eu tenho que passar. Por isso tomo café, me dedico a tarde toda. É minha chance.

- Está aqui só pra estudar? - Chico entendia Jorge, mas se arrependeu de ter perguntado.

- Eu estou na casa de um amigo. Vim trabalhar para ser chamado agora e tenho de passar.

- Mas parece que essa pessoa te esperando te move mais do que o futuro.

- Ela está lá, fizemos um pacto. Eu aproveito pra estudar. Mulher nessas horas exige muito da gente.

- Te entendo perfeitamente. Tem uma menina linda aí no processo e eu não consigo parar de pensar nela. Sempre vem na aula do Gomes. Ela tem um olhar, uma boca, um sorriso...um mistério.

- Estou entendendo.

- Te mostro depois. Ela conversa com o Túlio. Acho que ela fica aí o dia todo. Ah olha lá o Enzo,ele vai me ajudar nessa – Enzo os viu e vinha na direção deles. Cumprimentaram-se.

Mesmo sem conhecer muito bem Enzo, Chico impressionava-se bem com o rapaz. Apesar da estatura e porte físico era simpático. Embora também não soubesse suas motivações naquele curso, sabia de seu trabalho na secretaria da estação central, algo a lhe conferir uma grande atenção naquele momento.

- Pede um café pra ti – Chico quis ser gentil.

- Na verdade eu não tomo, mas pego outra coisa.

Chico colocou Enzo a par da História com Rara. Conversando com Jorge, cada um contou alguma história de suas vidas. Jorge contou como conheceu a mulher a quem ele iria encontrar em Mônus. Na zona interiorana HI7 em uma feira de tecnologia médica. Sua mãe estava à época com cancro crônico e somente alguns nanorobos poderia fazer uma intervenção interna, mas aquele era um procedimento arriscado, Jorge aproveitou a feira para conhecer melhor. Na estante de uma marca havia uma mulher atendendo, era ela. Posteriormente sua mãe foi curada, mas veio a falacer em um acidante quatro anos depois. Enzo contou que morava com uma mulher – para certo alívio de Chico – há um ano. Paixão de infância. Chico quis saber como aquela paixão havia surgido pela primeira vez. Enzo não conseguiu explicar, era novo, havia admiração, ternura, mas nenhum tipo de marco. Chico contentou-se em não ter explicação.

- Preciso de um grande favor seu – disse Chico a Enzon e alcançou o ponto mais importante da conversa - Você trabalha na secretaria não é?

- Sim, já entendi. Você quer os contatos dela.

- Muito! Preciso falar com ela, mas não pessoalmente.

- Não posso fazer isso, mas se eu conseguir você me paga um rodízio de Ração assada depois.

“Quem é você? Não quero ter a sensação de ser observada por onde ando. Por favor, pare com isso. Não nos conhecemos e não é de fato minha intenção”

Sim, talvez não fosse o melhor tipo de resposta a tão nobre aproximação. Mesmo assim Chico sentiu um novo vento soprar. Aquela resposta configurava de certa forma uma atenção dela, uma conversa ou uma possibilidade. No dia seguinte, ao entrar na estação, figurou sobre o mezanino apenas para esperá-la. Mesmo com a grande quantidade de pessoas Chico seria capaz de encontrá-la em segundos. Enquanto a multidão fazia volume em sua retina pensou em seguir Rara e descobrir sobre sua vida. Parecia claro a repulsa diante de uma aproximação anônima. Mas havia ali medo, como forma brutal de consciência, Chico não desejaria se expor àquele olhar penetrante sem proteção. Algum lugar no fundo dos olhos de Rara parecia ser perigoso e estonteante. Chico precisava convencer-se de tudo o que não sabia. Não sabia sobre Mônus, não sabia sobre seu pai, não sabia quem era a mulher que lhe roubara os pensamentos, não sabia de nenhuma notícia a não ser as da central jornalística de seus sentidos. Aterrorizava-se por isso e encoraja-se equipotencialmente. Saber o movia e pensando sobre o alto de cabeças andantes Chico não quis saber. Resolveu, mesmo sem a amistosidade de Rara, continuar-lhe escrevendo. Ela precisava saber dos eventos ocorridos dentro do universo vertiginoso da cabeça dele. As pessoas precisam saber que os acasos encerrados entre todos desemboca em encontros e desencontros e, quando o encantamento é eminente no mínimo se torna honesto a pessoa encantadora se saber assim para com Chico. Continuaria escrevendo, lhe contaria como chegou àquele ponto, continuaria anônimo, resguardado pela sua insignificância. Enquanto felicitava-se por tal decisão foi invadido por ela. Subindo as escadas sem olhar os degraus. Sua firmeza e delicadeza preenchiam aquele hall nas fendas mais sutis das colunas de mármore. Mais uma vez sua roupa simples escondia algo. Chico não sabia. Contentou-se em vela aguardar os elevadores e foi, ainda recolhido ele próprio para a fila.

A tarde chegou escura, densa, o ar espesso. Ao mergulhar as escadas da plataforma para ir ao à loja Chico viu à oeste uma nuvem de explosão assustadoramente grande. Sua forma tampava o sol, dava à rua pior aspecto frente ao já sujo dia da Pálpebus. Parecia um monstro da escuridão carregando-a, avançava tomando o céu e espalhando medo. As pessoas olhavam para cima boquiabertas. Pouco se falava. Se via e Chico sabia somente o que seus olhos viam e o nó de sua garganta atava. Alguma coisa aconteceu em algum lugar. Quem saberá dizer? Dentre os sites, pessoas, agendas, comunidades e órgãos representantes do Conselho administrativo parecia a Chico que a única fonte de informação mais confiável seria seu pai. Não sabia se ele estava em casa, mas decidiu passar lá após o trabalho. Talvez estivesse diante de uma revolução ou uma dizimação, não sabia. A vida parecia assim, a linha limítrofe entre o concreto e o transposto. Naquele momento, com a explosão ao oeste de seu corpo e ao centro de sua cabeça Chico sentiu um aroma radical de mudança. Só não sabia o quê.

Há uma extraordinária beleza no caos, sutilmente escondida nas pequenas coisas, em nós. Como um lírio em um canto úmido e sujo dum esgoto.

Basta que você ande na rua e note quantas pessoas passam diante de ti, mas não são pessoas, são vidas, são histórias, são aventuras, são experiências, são alegrias e tristezas, são amores, são artistas, são loucos. Cada ser que te passa aos olhos é um mundo, uma descoberta. E então porque não vivê-los? Porque nos controlarmos? Porque não seguir a nossa vontade? De beijar fervorosamente alguém sem que conheçamos, de gritar qualquer coisa aos quatro ventos, de viver intensamente o olhar de um mendigo? Porque não se aventurar? Porque não sair andando sem rumo? Quantas vozes dentro de um trem para serem ouvidas, quantos perfumes a serem sentidos, quantos corações a serem afagados. Às vezes o grande amor de nossas vidas estava sentado no banco e traz coletivo, ou passando apressado do nosso lado na calçada, ou te vendendo um talk, uma ração, ou dirigindo um táxi, ou do ouro lado da rua esperando o semáforo abrir, ou carpindo um terreno no caminho de casa, ou em qualquer outro lugar do mundo... Ele existe... É. Ele existe... Mas... Como saber?

Infinitos grandes amores pairam soltos, e nossa razão consciente não nos permite enxergá-los, prová-los. É preciso abandonar a responsabilidade e agir inconscientemente, e amar com força aquilo que o acaso determinar.

Assim o faço: amo alguém que está neste momento em algum lugar diante de um computador, tão longe e, entretanto aqui do meu lado. E amo acima de tudo alguém que anseia por liberdade.

15 de julho de 2011

Entre Drogas & Drogados


Amigo que a custo nos lê. Permita-me um devaneio inspirado na póstuma e oportuna aparição do nosso ex presidente da república Fernando Henrique Cardoso para defender a descriminalização das drogas. Oras. Esse humilde escritureiro que vos fala é do tempo em que até que se debatem as coisas mas à moda la carte, meio fantasiando, meio com medo. Vamos como ponta de lança e chute no gol.

Já ouviu falar em Al Capone? Aquele da música do Raul Seixas. O gangster do século traficante de bebidas.... só pôde ficar famoso pela conduta legal dos States que criaram uma lei seca proibindo o consumo e comércio dos etilics, como diria Mussum. Sem mé pra comprar, quem gosta de mé, um jeito dá. Sim, estimados, enquanto aprecia sua cerveja com os amigos, toma aquele porre no carnaval, fica desinibido, entramos para a estatística. O alcool é a droga com maior poder de destruição e a que mais mata no mundo. E sabem qual é a segunda? Remédios....da onde? Da drogaria, é claro. Engraçada, não, duas coisas extremamente legalizadas e descriminalizadas....oras algo de errado acontece.

As indústrias farmacêuticas e de bebidas são umas das mais rentáveis, como a do tabaco. Agora, pergunte-se caro amigo, no conforto de sua leitura: por que tanto discurso contra as drogas? Pergunte se o deputado, deputada que você votou daria seu voto para um projeto nacional que extigua todas as drogas do país. Eles fariam? Você faria? Pergunte-se antes se existirá algum dia em algum país uma lei extirpando todas as drogas da sociedade. Pergunte a um historiador ou antropólogo qual foi a única civilização na história da humanidade que não tinha substâncias ditas drogas em sua cultura. Incas, egípcios, babilônicos, sírios, chineses, mongoleses, esquimós, índios, gregos, maias...todos... Pergunte e receberá uma resposta simples. Nunca ouve algo assim. A questão é o que fazemos com isso?

O Rapper Mano Brown, dos Racionais’Mcs, em uma brilhante entrevista na TV cultura começou dizendo que um traficante nada mais é do que um comerciante. “as pessoas querem, eles vendem” ganham a vida com isso. Enquanto pares de peitos saltitantes e lindas modelos tomam uma cerveja na televisão o mundo acontece.

Lembrando o amigo Fernando Gabeira, paz e amor: O princípio da descriminalização é um princípio filosófico de que as pessoas, como seres cientes têm o direito de fazer o que querem com seus corpos. Estou em pleno acordo com esta afirmação ciente que nossa sociedade não produz seres cientes. Sim, o corpo é seu! Se quiser abortar seu filho o faça, se quiser tomar chá de cogumelo ou vinagre, vá lá; se quiser se unir com homens, mulheres ou os dois, vá em frente; se quiser morrer busque o que quer. Mas antes, eduque-se para saber o que são essas coisas e as faça sabendo.

Este aqui é do tempo em que no nosso país veem o problema das drogas como de segurança pública. Nossos “superintendentes” governantes não entendem que este é um tema da saúde pública. Viciados em maconha, crack, cocaína, extase, álcool, chocolate, internet, videogame, jogos entre tantos outros vícios da vida moderna devem ser assistidos pela saúde pública.

Este humilde jovem é do tempo em que a democracia anda meio desconjuntada. É do tempo em que o executivo quer legislar por decreto, o legislativo quer julgar com CPIs e o judiciário quer executar com decisões. Este que vos fala é do tempo de hoje, julho de 2011, que o estado também perdeu suas pernas e que quer interferir no arbítrio das pessoas, proibindo a mamãe de bater no filhinho sapeca, proibindo o consumo disso e daquilo, probindo você de frequentar tais e tais lugares. Sim, o meu tempo é o seu e estamos aqui.

Assim como com nosso amigo al capone. Uma lei que legalizou a bebida nos EUA acabou com o pobre gangster. Quanto não se despende de recursos para combater os milhões de Al Capones do Brasil? Jack Nicholson foi mais do que taxativo quando disse que todas as drogas e substâncias deveriam ser liberadas para que as pessoas fizessem o que bem entendessem.

A pedra no sapato do estranho no ninho, porém, é que não somos uma sociedade moderna e madura. Somos uma massa de tubos digestivos ambulantes que assiste novelas e vão às missas. Uma sociedade moderna cuidaria do maior bem que se pode cuidar para evitar estas discussões: a educação. Uma sociedade moderna municiaria seus cidadãos de sua verdadeira consciência, liberdade e autonomia para fazerem o que bem entenderem com seus corpos entendendo os limites morais, físicos, psicológicos e biológicos das suas ações. Não somos uma sociedade dessas e nem seremos. Vamos criminalizar a novela das oito, as revistas de celebridade, o ben 10, a publicidade, e tantas outras coisas que fazem de nós meros coadjuvantes destas discussões....é a vida. O que você acha?

10 de julho de 2011

Ode aos perdões



Perdoe se te excomungo as vezes.
No seio da cruz em que nasceste.
Escorrendo pela montanha
seu povo e sua terra percebeste
que sua história não estaria ganha.

Perdoe por ter te visto pobre
entre torres de um canto silencioso
entre fados e grilhões vi que és nobre.
no sacrilégio de sua romaria
assustou-me como jamais me assustaria

Perdoe aqueles que te esquecem.
Se te tomam por esquecida
é que só lembram do que sofrem.
São migrantes entres estradas e clarões;
são ingênuos operários dessa vida.

Perdoe também a incompetência
dos que um dia te usurparam
pela cruz, pela arma ou pela caneta.
A ti somente levaram à decadência
somente a decadência lhe deixaram.

Perdoe aos que quiseram partir.
A terra onde fixara suas raízes
é vasta, desumana e cruel.
Seus filhos se vão à outras marquises,
pois oportunidades não caem do céu

Um povo entretanto te faz o perdão.
Um pedaço de natureza
não se faz por arvores ou cachoeiras.
A história de sua dor e sua pureza
é banhada por pessoas verdadeiras.

Daqueles a quem cedera chão
espere de tudo sem pedir,
o escrutínio, o roubo, o amor
pois eles operam sua construção,
eles que te podem devolver o louvor.

Te fizeram a custo em muitos anos
e continuam com talha trabalhando.
Perdoe aos que talharam mal
mas lembre: muitas vezes são dos danos
que sua história vai se edificando.

Pessoas são tantas e muitas.
Podem continuar a te ferir,
mas deixe aqueles que te fazem
buscarem seus heróis que jazem.
Resgatar, guardar, seguir.

Perdoe-me por temer por seu futuro.
Quero te recriar a partir de agora.
É o mundo não é mais puro,
e quando abraçado com ele for embora
que seu acervo esteja bem ….seguro

Perdoe, por fim, a si.
Perdoe-se por carregar tamanho nome.
Nem todos podem ser Bons.
Nem todos em Jesus creem.
Nem a todos seu Perdão consome.

Perdoe-se, mas perdoe-se com fé.
Se tua flâmula contém o perdão,
contém junto o pecado.
Contém o mal, a briga e a traição
para que seu ato possa ser perdoado.

Perdão por não te perdoar.
Perdoe-me por não te ver.
Perdoe-se por existir.
Perdoe-nos por te reconhecer,
mas não perdoe quem quer te apagar.

5 de julho de 2011

Soneto da verdadeira solidão

Vide a mim que te chamam dura.
De teu temor e tua alma eu bebo;
e quanto aos olhos tristes que percebo
mostro como és caricatura.

Jamais se sabe de fato de uma criatura
seu pensar ou seu escondido medo.
Seu desejo ou seu íntimo segredo.
Jamais se tem companhia realmente pura

Temos todos o nosso débil reino,
onde vivemos em solidão plena
o mistério tortuoso dos pensamentos

Temos passado a vida por um treino
onde aprendemos da solidão a pena
Mas remamos a vida com seus ventos.

O lado de dentro...sublime

O lado de dentro...sublime