"- Doutor, eu não estou bem. Ando triste, pensando em morte
- Faz tempo que isso está acontecendo? Você pode estar com depressão.
- Preciso de sua ajuda.- Posso lhe encaminhar para um especialista. Faça um teste porém, o palhaço Pagliacci está na cidade, vá vê-lo, garanto que irá se sentir melhor.
- Mas doutor.....eu sou o palhaço Pagliacci”
***
O despertador tocou em algum lugar entre Av rio Branco e a Angélica. Dentro de um quarto simples e sujo, a frente de uma pia rodeada de louça e baratas, em baixo de um edredom cascudo de sêmen e fedido de suor e chulé, em cima de uma cama quebrada, ao lado de uma TV velha, algumas garrafas vazias de cerveja e sobre um travesseiro ensebado... abriram-se um par de olhos. Da janela sem cortina se via o minhocão, os mendigos se escondendo do frio na amaral Gurgel. Em um prédio antigo e mal cuidado, com portão de ferro e elevadores de portas metálicas treliçadas, em algum lugar deste prédio morava Frederico.
Naquele recinto em que acordara contra sua vontade Frederico escrevera suas montagens cômicas. De humor elegante e tiradas clássicas este homem frequentou as melhores salas de teatro, teve as mais lindas e formosas mulheres, muitos amigos, de todos os tipos. Comediantes como ele, produtores, diretores, maconheiros e boêmios, jogadores de pocker, boleiros de sábado. Seu apartamento era aberto a todos no então prédio lustroso, no recém-inaugurado elevado Costa e Silva, cartão postal da cidade que cheirava cultura, política, saraus, clandestinos e camaradagem.
Bandeirante de bares moribundos, organizador de encontros, crítico voraz da ditadura, escreveu em piadas e chacotas a soberba dos quepes empinados. Um dia perguntaram-lhe quantas pessoas já havia feito chorar. Disse com firmeza – mais de 10 mil .... de rir. Era sua competência nata. As plateias iam as lágrimas e furores com sua desenvoltura. O volume do teatro em risos era um cântico contra o terror dos tempos. Rir dos militares era ainda mais gostoso. De riso em riso Frederico construiu um castelo de alegria, e foi no alicerce deste castelo que pessoas de quepe colocaram bombas. Não podia mais se apresentar, notícias plantadas o tiraram do holofote da resistência e colocaram-no como delator. O público se voltou contra, o apartamento ficara vazio. Fora preso, torturado, ameaçado, humilhado e solto. A vida lhe pregara uma peça.
***
Anos são capazes de varrer fatos e histórias, mas a memória de um homem só a morte pode levar. Frederico estava velho. Seus olhos miraram de tudo, sua voz fez milagres. Pelo acaso do tempo e justiça dos homens viu seus algozes fugirem, se internarem, ficarem loucos, morrerem. Viu a degradação da cidade. Viu as pessoas tendo suas vidas arrancadas por comerciais de Tvs, viu seu amigos tornando-se pessoas comuns, criando famílias. Viu os produtores cederem aos novos rumos das peças pasteurizadas. Depois de ver tudo isso, chegara mais um dia. O despertador tocava naquele quarto.
Frederico se levantou. Chutou sem querer uma garrafa vazia. Abriu a geladeira e entre um leite azedo e um sanduíche mordido pescou uma long-neck de Itaipava. Caminhou até a janela do terceiro andar, clara e repleta de automóveis passando, olhou para cima, para baixo, com uma mão na cintura, outra na garrafa, abriu um sorriso escancarando os dentes e matou a garrafa. Ficou ainda uns instantes na janela.... quando avistou uma bmw apontar no minhocão, foi só fazer o que a anos era mestre. Lá se ia uma garrafa de encontro a um vidro de R$2000,00.
- Yes!
Lá embaixo Geraldinho passava na rua e viu a figura na janela comemorando.
- Acordô cedo hoje hein! São só duas da tarde.
- Suba Geraldinho ….. e pega o jornal na portaria.Café da manhã, notícias, café..conversa fora...uma roupa meio amarrotada e as 16:00 estavam no bar do Elias, onde se apresentava Frederico.
Lá iam muitos amigos de anos, barrigudos mas leais. Piadas ácidas, piadas bestas, gargalhadas, goles, pornografia, biritagem, libertinagem, auto demérito. E entre as mesas, varias vezes na tarde e na noite Frederico ia ao centro do bar emprestar sua alegria as bocas sorridentes. Passava peças antigas, coisas novas... nunca escrevera tão bem quanto antes. Há quem garanta que as novas são muito melhores, dotadas de uma sacação que só as cabeças experientes e abertas seriam capazes de produzir. Carregadas de críticas ao modo de vida das pessoas e repletas de desprezo por este modo de vida.
Embora fosse chamado para compor números destinados a comediantes novos, bem empresariados, mais ou menos pasteurizados.... “que tem cara de pastel” dizia ele. Frederico tinha ali sua melhor fase. Escrevia para poucos e para ele, detestava stand-ups, e mauricinhos metidos a humoristas valendo-se de ofensas para arrancar risos de pessoas infortunadas. As mulheres continuavam bonitas e formosas, por dentro. Muitas pessoas riam por dentro, riam por fora. Frederico, nunca chorou se não por rir e, ao contrário, fazia de suas palavras uma flecha aguda e, olhando os outros rirem podia senti-los chorarem. Frederico pregou uma peça em todos e na vida sobretudo.
3 comentários:
Humm...
Não gostei muito...
Vale pela descrição...
Mas a história não conseguiu me dizer muita coisa.
Quanto ao perfil do personagem, incomodou pelo tom um pouco digamos “presunçoso” de caracterizá-lo. Talvez tenha sido a idéia ou não, mas a percebi como uma tentativa de “resgatar uma característica de superioridade” perante aos outros.
Enfim...rs
Talvez não tenha tido a sensibilidade de captar nada...mas não podia deixar de comentar...rs
Bjo Vitão.
Digamos que como exercício de prática de escrita, valeu. Mas o que eu senti desse texto é que ele começa com uma descrição do personagem e de uma cena, mas depois parece que houve pressa em contar o restante, e ai não soube muito bem o que se queria passar. Pareceu resumido, uma urgência em passar a mensagem, que talvez eu não tenha captado. Ou tenha.
Esse texto me lembrou a música do Chaplin: "Sorri vai mentindo a sua dor, e ao notar que tu sorris, todo mundo irá supor que és feliz."
O interior de cada um é sempre um mistério. E muitas vezes a "máscara" é o que vemos....
Acho que se esse texto se estendesse, ele poderia se tornar bastante interessante. A frase (que gostei bastante) "Anos são capazes de varrer fatos e histórias, mas a memória de um homem só a morte pode levar" poderia ser o início de algo mais profundo, mas foi a partir dai que tudo foi num golpe só.
Beijos
Pretinha u-uuuuuuuuu
sem palavras...Mônica.
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