Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

20 de junho de 2011

Meia hora em Billie Jazz macieira

Allan amava Hellen. Era o que sentia. Não sabia, mas sentia. Hellen não queria amor. Era o que pensava. Não sabia, mas não queria conhecer o amor. Billie nada tem a ver com os dois, mas tocava guitarra com sentimento. Quando bêbado tocava sentimento com a guitarra. Bela...Não sei muito sobre ela e seu papel nesta história, nem o que ela seja, mas é bela. Belíssima. Encantadoramente bonita. Seu sorriso dócil podia confortar uma alma salvagem.

E foi assim:

Os dedos deslizavam pelas cordas da guitarra. Era BB King saindo de um sonho com Chopin e de olhos fechados sorvendo seu conhaque.

HELLEN – Que música linda! Isso é alma. Não essa aí que você escreve, nem nenhuma que leu....alma de sentimento....(Mais um desse pra mim por favor)
ALLAN – Você tem uma boa sensibilidade pra música e para as artes.
HELLEN – Isso não é sensibilidade meu caro, é a vida, isso é uma guitarra tocada por um bêbado que sabe o que é sofrer.
ALLAN – Isso foi indireto a mim? Acha que eu não sei o que é soferer? Ou não vivi a vida o suficiente?
HELLEN – Você viveu e está vivendo. Não seja tão severo consigo mesmo. Você é uma das pessoas mais sensíveis que conheço. Mas seu sofirmento é platônico...amoroso.. Meu poeta! Olha aquela cara amarrada daquele guitarrista, olha o olho pálido...com seus sessenta e pouco deve ter passado fome e dormido na serjeta por desilusões.
ALLAN – Você valoriza isso, não é? De fato terei de me rastejar ainda. As vezes não entendo muito como uma pessoa vivida como você resolveu ficar com um cara como eu. Não sei se quero entender também. Estou cada vez mais gostando de você. Do seu jeito, dos lugares que me faz conhecer.Apesar de você dizer que não somos namorados ou algo assim.
HELLEN – Pense menos. Não se preocupe com os meus motivos. Amanhã pode ser um dia em que estaremos mais ou menos velhos e chatos, certamente não estaremos juntos, mas talvez, se você se permitir, tenhamos boas lembranças.
ALLAN – É isso que estou fazendo. Você me conduz...gosto disto, apesar de sentir que você não tem por mim o mesmo sentimen.......to. É …. é segura demais.
HELLEN – Que foi?
ALLAN – Nada.

Aeeee.ffiiiiiuuu aeee...uuuuu...bravo....toca Raul!...fiiiuuu aee....uuuuu!!!

ALLAN – É muito bonito. Me faz lembrar aquele ano novo lá no sítio do Neal. Você estava no.....no...
BILLIE – Senhores e senhoras uma pausa rápida pra esse garotão aqui conseguir se concentrar. Vou fazer uma oração também pra agradecer meu papai do céu que eu posso enxergar as coisas lindas que a natureza produz.
HELLEN – Você achou ela bonita, não é? Essa moça que entrou? Esqueceu até o que estava falando.
ALLAN – É...não, não da moça...da música isso que eu estava prestando atenção.
BELA – Tem alguém usando esta cadeira?
ALLAN – Não! Claro! pode pegar, fique a vontade.
BELA – Obrigado!
(sorriso cordial ...... coração murchando)
BILLIE – Com licença senhorita, aceite este conhaque de um guitarrista que precisa te agradecer, por ter vindo e roubado minha concentração.
HELLEN – Ela é charmosa. Muito bonita, será que é prostituta?
BELA – Obrigada. Está um pouco frio e eu gosto de conhaque. Ainda mais vindo do artista da noite.
BILLIE - O artista não é nada sem um público com os olhos nele, para ele se sentir mais poderoso, ou com uns olhos assim negros como os seus pragente se inspirar no palco.
ALLAN – É. Muito charmosa.
HELLEN (brava) – Vou ao banheiro!
BELA – Você é gentil Billie, aprecio essa qualidade nos homens. E seu talento nem se fala.
BILLIE – Você sabe meu nom...
ALLAN – Com licença, desculpe atrapalhá-los, mas queria parabenizar você Billie pela música e pela tão formosa esposa que têm....senhorita?
BELA – Bela! Você é o moço que me cedeu a cadeira...seu nome???
BILLIE – Não somos namorados, nem casados, infelizmente. Pelo menos por ela, pois desde que ela entrou aqui eu a estou namorando. Ela veio deslizando e sua amiga saiu marchando o salto.
ALLAN – Allan! Meu nome é Allan, muito prazer, Bela....bela.
BILLIE – Gilson! Por favor quatro conhaques macieira! Sente-se aí rapaz.
BELA – Sua namorada está brava?
ALLAN - Hellen? Aha, não ela é uma pessoa muito segura, não somos namorados...não tem nada de mais....a
HELLEN – Já mudou de mesa? Nunca tinha visto tamanha socialização em tão curto tempo.
BELA – Olá Hellen, o Allan casualmente estava falando de você quando chegou...sou Bela.
HELLEN – Não deve ser seu nome de verdade.
BELA – É sim.
(sorriso dócil – corações masculinos murchados à mesa)
BILLIE – Moça... previ sua chegada e pedi quatro doses para nós.
HELLEN – Ah...... obrigado Billie....sou sua fã! Você toca de um jeito tão especial..... obrigado...acho que estou sem muita vontade hoje.
ALLAN – Mas você estava tomando conhaque até agora.
BILLIE – Então.....Bela, o que a trouxe aqui? Algum motivo especial?
BELA – Beba conosco Hellen, não recuse uma cortesia do artista da noite.
ALLAN – Você também é artista Bela? A julgar pelo nome e pela postura diria que você é atriz, e uma boa atriz.
BILLIE – Saúde...à Beleza da vida
ALLAN – Saúde...viva!
HELLEN – Acho que já está no nosso horário. Temos de ir andando.
BELA/ALLAN – Não!
ALLAN – Ainda é cedo.
BILLIE – Quer dizer que é atriz?
BELA – Na verdade estou tentando ser. Não consegui nenhum papel importante. Acho que sou uma pessoa muito comum. O que vocês acham? Hellen?
ALLAN – De forma alguma. Você deve ser muito talentosa, deve ter dado azar.
HELLEN – Não sei. Talvez você não seja mesmo uma boa atriz. Pode acontecer... Allan, vamos?
BILLIE - Que é isso! Só da forma como chegou arrebatou a plateia....em todos os sentidos
ALLAN – Você é...
HELLEN – Com Licença gente, vou fumar um cigarro. Allan, pede a conta, por favor.
BELA – Eu vou com você...
ALLAN – Eu quero fumar também....é bom fumar no frio. Vou ao banheiro e já vou lá.
BILLIE – Gilson! Tá furado meu copo.

****
ALLAN OLHANDO PARA O ESPELHO DO BANHEIRO
“Meu deus...que mulher maravilhosa...to quase pulando em cima dela”
BILLIE NA MESA
“Velho lobo, toque uma musica bonita...mais alguns conhaques...conte com a sorte e com o alcool...e se você conseguir comer essa deusa....tire uma foto e se aposente”
HELLEN NA RUA.
“Filho da puta descarado dando em cima dessa biscate”

BELA – Está tudo bem? Você parece nervosa.
HELLEN – Tá, tá sim.
BELA – Você parace inquieta com seu amigo. Ele disse que vocês não são namorados, mas acho que gosta dele.
HELLEN – O que!?! Ele disse!? ...Não! não somos mesmo ...tivemos um caso..só
BELA – Que bom, uma mulher de espírito aberto.
HELLEN - É, nem combinamos muito
BELA – Você é uma moça tão bonita...com essa alma aventureira certamente pode ser uma pessoa que viva experimentando muitas formas de prazer...isso é atraente.
HELLEN – Brigada – você também é muito bonita...
BELA – Você acha? Que bom, quando notam..
HELLEN – Mas todos notam...os homens estão babando lá dentro.
BELA – Não desprezo, me lisonjeio, mas não me interesso....prefiro um elogio de uma mulher como você................ Queria muito ter o prazer da sua companhia em um outro lugar...moro aqui perto...vamos lá?

2 minutos depois...

ALLAN – Ué, cade a moça?
HELLEN – Foi embora. Estava um pouco cansada...
ALLAN – Ahhh.... vou lá pedir a conta.
HELLEN – Eu vou andando na frente.
ALLAN – Tá... tá tudo bem?
HELLEN – Tá....me surpreendi demais com os outros e comigo na ultima meia hora.
ALLAN – Parece que nossa amiga bela também
HELLEN – Não sei.....
ALLAN – Eu também..que pena.....já volto.

E....
Lá dentro...

...a guitarra soou melancólica.

2 comentários:

Anônimo disse...

não imaginava este final, os personagens te colocam dentro da história, de como se vive e porque se deixa de viver, conto real e inusitado!!!!

Ruth Carvalho disse...

nossa amei este texto... você usa muito bem as palavras... dialogos afiados.... gostei da história também.

O lado de dentro...sublime

O lado de dentro...sublime