Rodrigo deu uma mordida grande e nervosa no X-bacon, mastigou com as buchechas cheias, deu uma sugada na coca-cola, e engoliu de uma vez só. Estavam numa lanchonete perto da Teodoro Sampaio, um lugar sujo com mesas de lata enferrujadas e um cheiro de café mal passado do domingo de manhã. Clara pediu um suco e tomava pausadamente enquanto ouvia Rodrigo elucidar a situação.
O moço era integrante de um grupo de ladrões que promoviam jogos de pocker. Ele era talvez o croopie mais habilidoso que já participara do grupo, conseguia sem o menor esforço colocar três ais na mão de qualquer pessoa da mesa. O restante do grupo era composto por mais seis pessoas: Joe, o mais influente de todos, oriental bem sucedido dono da mansão em campos do Jordão onde os jogos aconteciam e freqüentador dos mais luxuosos jantares da nata paulistana ao lado de sua pseudo-esposa Jaqueline, uma deslumbrante mestiça de sorriso acanhado e poucas palavras; Rubens, o jogador oficial, fazia-se passar por um herdeiro milionário de um carpinteiro que desenvolvera uma peça chamada cachimbo, responsável por aumentar o rendimento de uma locomotiva em quinze por cento. A patente deste cachimbo rendeu, segundo a história, uma vida muito confortável ao jovem rapaz de trinta e cinco anos. Além disso, colaboravam para o desempenho da equipe Judite, a garçonete, William o jogador isca, e Rômulo, policial civil do departamento de investigação responsável pela tranqüilidade da ação.
O processo funcionava da seguinte maneira, Joe e sua pseudo-esposa, divulgavam nos particulares eventos as partidas aos apostadores, que eram bem escolhidos. No jogo, estavam a mesa, Rubens e Willian, um reservado e na maioria das vezes o ganhador do golpe e o outro que fazia o papel de um pequeno empresário viciado em jogos e detentor do mais perigoso espírito aventureiro, além de Rodrigo, o mais novo que distribuía as cartas de forma a deixar o jogo bem equilibrado até a jogada chave. Normalmente, Rodrigo recebia as informações de quem deveria ir para o fim do jogo junto com Rubens, aí, depois de longas horas de batalha ele soltava na mão da vítima uma quadra alta, de valete, dama ou rei, o suficiente para deixar qualquer apostador a ponto de colocar sua casa na mesa, mas para o parceiro vinham belas seqüências limpas e estava feito o jogo. Judite era da retaguarda, se necessário ela passava cartas, distraia os apostadores, servia drinkes sonolentos, ou até aliviava sexualmente ou outro nos intervalos da partida. Rômulo desviava rastros de investigações, passava as coordenadas dos outros lugares clandestinos e das possíveis vítimas. O dinheiro era bem dividido e cada um dava conta da sua maneira.
Clara ouvia atentamente todo o desenrolar da trama. Às vezes se ajeitava na cadeira com empolgações orgásticas pela história. Rodrigo armara com Judite um auspicioso golpe no grupo. Na ultima partida, ocorrida na noite anterior, depois que ele trocou rápidas palavras com Clara no msn, deu o jogo para Willian quando este – pelo trato - deveria sair. Willian subiu aposta por aposta até levar o pote de todos exibindo sua trinca de ais. Terminado o jogo, todos na sala, começaram a discutir sobre o que fizera Willian e porque Rodrigo dera o jogo feito para o companheiro. Rodrigo alegou ter sido um equívoco na hora de embaralhar as cartas, Willian disse que, apesar de receber um jogo alto, tinha certeza que Rubens estava com um maior que o dele para levar o pote. Não satisfeito com a ação do Crupie, Joe dispensou o rapaz depois da partilha por ele ter descumprido o trato e esse tipo de erro ser muito arriscado para o negócio. Rodrigo estava saindo em direção ao carro quando Rômulo veio lhe falar:
- Hei!! Hei!! Rodrigo – disse ainda com um bolo de dinheiro na mão.
Rodrigo esperou, o policial se aproximou, ficou olhando atentamente para o bolo em sua mão e para a cara do Crupie. Naquele momento, Rodrigo teve a certeza que o dinheiro falso trocado por Judite o qual estavam todos levando para casa não era tão verdadeiramente falso quanto se imaginava, não para um policial. Rodrigo perguntou o que era e foi sorrateiramente para o carro, abriu a porta, entrou, mas Rômulo a segurou:
- Você acha que é fácil enganar as pessoas hein pirralho? Cadê o dinheiro? Onde você colocou?
- Que dinheiro? Que que você ta falando?
- To falando do dinheiro de verdade que aquela vagabunda trocou por essa imitação barata.
- Eu num sei de nada - Disse tentando fechar a porta.
- Você acha que alguém lá dentro não notou, eu to aqui só pra te mandar pro inferno e pegar a grana seu bostinha.
Rodrigo engatou a ré no carro e arrancou, torceu o volante ... primeira marcha. Nesta altura Rômulo já estava com a arma em punho levantando em direção ao motorista. Rodrigo o atropelou antes que ele pudesse atirar, e saiu em disparada, ainda a tempo de ver da estrada, os faróis dos automóveis da casa se acenderem e rumarem em sua captura. Ele acelerou, colocou o braço para trás a ponto de tatear a perna quente e lisa de Judite deitada no banco de trás, com a bolsa contendo aproximadamente 200 mil reais. Eles andaram de campos do Jordão até São Paulo, pararam próximos ao cemitério do araçá, dividiram a grana e cada um tomou seu rumo. O de Judite foi passar uns tempos no interior do Recife e tentar algum negócio pequeno. O de Rodrigo foi incerto, por isso ligou para Clara. E estavam agora frente a frente com os cotovelos na mesa velha, um jovem com cem mil reais num Fiat 66, fugitivo do grupo de ladrões e da polícia pela morte do tratante, e uma moça cansada de ouvir os pianos dolorosos de Colle Potter, e a ponto de injetar o mais gloriosos Bob Dylan no K7 do carrinho para trilhar uma fuga.
Clara temia pela sua saúde, pela saúde dos seus pais, mas no fundo já sabia o que fazer, sabia para onde ir, sabia ... era isso.
Ela recostou mais na mesa, aproximou-se de Rodrigo, lhe disse algumas palavras que nem o narrador conseguiu escutar, ergueu a cabeça, pediu um cigarro, deu os dez reais que Rodrigo tirara da carteira, não esperou troco. Os dois se entreolharam, levantaram e foram.
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O moço era integrante de um grupo de ladrões que promoviam jogos de pocker. Ele era talvez o croopie mais habilidoso que já participara do grupo, conseguia sem o menor esforço colocar três ais na mão de qualquer pessoa da mesa. O restante do grupo era composto por mais seis pessoas: Joe, o mais influente de todos, oriental bem sucedido dono da mansão em campos do Jordão onde os jogos aconteciam e freqüentador dos mais luxuosos jantares da nata paulistana ao lado de sua pseudo-esposa Jaqueline, uma deslumbrante mestiça de sorriso acanhado e poucas palavras; Rubens, o jogador oficial, fazia-se passar por um herdeiro milionário de um carpinteiro que desenvolvera uma peça chamada cachimbo, responsável por aumentar o rendimento de uma locomotiva em quinze por cento. A patente deste cachimbo rendeu, segundo a história, uma vida muito confortável ao jovem rapaz de trinta e cinco anos. Além disso, colaboravam para o desempenho da equipe Judite, a garçonete, William o jogador isca, e Rômulo, policial civil do departamento de investigação responsável pela tranqüilidade da ação.
O processo funcionava da seguinte maneira, Joe e sua pseudo-esposa, divulgavam nos particulares eventos as partidas aos apostadores, que eram bem escolhidos. No jogo, estavam a mesa, Rubens e Willian, um reservado e na maioria das vezes o ganhador do golpe e o outro que fazia o papel de um pequeno empresário viciado em jogos e detentor do mais perigoso espírito aventureiro, além de Rodrigo, o mais novo que distribuía as cartas de forma a deixar o jogo bem equilibrado até a jogada chave. Normalmente, Rodrigo recebia as informações de quem deveria ir para o fim do jogo junto com Rubens, aí, depois de longas horas de batalha ele soltava na mão da vítima uma quadra alta, de valete, dama ou rei, o suficiente para deixar qualquer apostador a ponto de colocar sua casa na mesa, mas para o parceiro vinham belas seqüências limpas e estava feito o jogo. Judite era da retaguarda, se necessário ela passava cartas, distraia os apostadores, servia drinkes sonolentos, ou até aliviava sexualmente ou outro nos intervalos da partida. Rômulo desviava rastros de investigações, passava as coordenadas dos outros lugares clandestinos e das possíveis vítimas. O dinheiro era bem dividido e cada um dava conta da sua maneira.
Clara ouvia atentamente todo o desenrolar da trama. Às vezes se ajeitava na cadeira com empolgações orgásticas pela história. Rodrigo armara com Judite um auspicioso golpe no grupo. Na ultima partida, ocorrida na noite anterior, depois que ele trocou rápidas palavras com Clara no msn, deu o jogo para Willian quando este – pelo trato - deveria sair. Willian subiu aposta por aposta até levar o pote de todos exibindo sua trinca de ais. Terminado o jogo, todos na sala, começaram a discutir sobre o que fizera Willian e porque Rodrigo dera o jogo feito para o companheiro. Rodrigo alegou ter sido um equívoco na hora de embaralhar as cartas, Willian disse que, apesar de receber um jogo alto, tinha certeza que Rubens estava com um maior que o dele para levar o pote. Não satisfeito com a ação do Crupie, Joe dispensou o rapaz depois da partilha por ele ter descumprido o trato e esse tipo de erro ser muito arriscado para o negócio. Rodrigo estava saindo em direção ao carro quando Rômulo veio lhe falar:
- Hei!! Hei!! Rodrigo – disse ainda com um bolo de dinheiro na mão.
Rodrigo esperou, o policial se aproximou, ficou olhando atentamente para o bolo em sua mão e para a cara do Crupie. Naquele momento, Rodrigo teve a certeza que o dinheiro falso trocado por Judite o qual estavam todos levando para casa não era tão verdadeiramente falso quanto se imaginava, não para um policial. Rodrigo perguntou o que era e foi sorrateiramente para o carro, abriu a porta, entrou, mas Rômulo a segurou:
- Você acha que é fácil enganar as pessoas hein pirralho? Cadê o dinheiro? Onde você colocou?
- Que dinheiro? Que que você ta falando?
- To falando do dinheiro de verdade que aquela vagabunda trocou por essa imitação barata.
- Eu num sei de nada - Disse tentando fechar a porta.
- Você acha que alguém lá dentro não notou, eu to aqui só pra te mandar pro inferno e pegar a grana seu bostinha.
Rodrigo engatou a ré no carro e arrancou, torceu o volante ... primeira marcha. Nesta altura Rômulo já estava com a arma em punho levantando em direção ao motorista. Rodrigo o atropelou antes que ele pudesse atirar, e saiu em disparada, ainda a tempo de ver da estrada, os faróis dos automóveis da casa se acenderem e rumarem em sua captura. Ele acelerou, colocou o braço para trás a ponto de tatear a perna quente e lisa de Judite deitada no banco de trás, com a bolsa contendo aproximadamente 200 mil reais. Eles andaram de campos do Jordão até São Paulo, pararam próximos ao cemitério do araçá, dividiram a grana e cada um tomou seu rumo. O de Judite foi passar uns tempos no interior do Recife e tentar algum negócio pequeno. O de Rodrigo foi incerto, por isso ligou para Clara. E estavam agora frente a frente com os cotovelos na mesa velha, um jovem com cem mil reais num Fiat 66, fugitivo do grupo de ladrões e da polícia pela morte do tratante, e uma moça cansada de ouvir os pianos dolorosos de Colle Potter, e a ponto de injetar o mais gloriosos Bob Dylan no K7 do carrinho para trilhar uma fuga.
Clara temia pela sua saúde, pela saúde dos seus pais, mas no fundo já sabia o que fazer, sabia para onde ir, sabia ... era isso.
Ela recostou mais na mesa, aproximou-se de Rodrigo, lhe disse algumas palavras que nem o narrador conseguiu escutar, ergueu a cabeça, pediu um cigarro, deu os dez reais que Rodrigo tirara da carteira, não esperou troco. Os dois se entreolharam, levantaram e foram.
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Continua no texto acima.
2 comentários:
Cada vez mais instigante...
haha, quero só ver...
estou de veras ansiosa...
mas pô, o golpe poderia ter sido maior.... 200 mil ñ é la grande coisa p o risco q eles estão correndo...hehe...
vamos ver.........
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