Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

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9 de setembro de 2014

Flertes modernos

Primeiro ele postou um vídeo da “banda mais bonita da cidade”. Até aí, ela pensou, muitas pessoas gostam deste vídeo. Ele é bem montado, a musiquinha é agradável e até aquele rapaz desordeiro deve ter seus lapsos de sensibilidade. Mas seguiram nas semanas posteriores, Nando Reis, charges mais ou menos bonitinhas, “eu procurei a vida inteira alguém como você”, e até Clarice Falcão. Parecia que o bicho do amor havia aprontado das suas. Não se viam as fotos das brincadeiras, os posts das pegadinhas e sustos nos outros. Ela, cujos olhos a muito viam naquele sorriso um convite acanhado, logo atentou-se. Será que é por mim que ele se apaixonou? Perguntava-se. A dúvida é uma formiguinha persistente e ressabiada que caminha pelas nossas entranhas e nos causam calafrios e desconfortos. Ele a olha e desvia o olhar. Quando cruzam um na direção do outro, um bloco de gelo que brota dentro da barriga. Ela também olha e finge que não viu. Depois vem os amigos, aqueles que sempre devem ser ouvidos, mas nuca podem falar e já nos deixam mais ansiosos. Ele não falou com ninguém, mas veja o jeito que te olha, diziam as moças que sequer entendem de si. Ela continua acreditando. Ele, anda na rua como se procurasse algo e se ela está, por mais que os olhos passeiem, voltam para lá. Um magnetismo incontrolável. E, quando se acha que tudo está estranho, ele posta que está se sentindo desiludido. “Não consigo parar de pensar em você” diz ele sem se preocupar com a enxurrada de mensagens zombeteiras. Ele vai se fortalecendo contra eles. Existem coisas que não se explicam, nosso coração é uma delas. Publica ela em uma resposta nada evidente. Ela desconfia de que é recíproco seu sentimento. Ele sabe, tem certeza desde sempre, mas naquela hora em que a certeza se transforma em ato, aí ele dúvida, pondera, pode não ser bem assim, posso estar confuso. A confusão é o ninho das formigas corrosivas. Mas, o que seria do ser humano se não fosse sua capacidade gigantesca de superação? Quando a confusão assola, quando a noite é longa a esperar o dia seguinte e o instante de vê-la novamente, quando a dúvida cruel corrói nossas vísceras. Quando o impulso de chegar é quase incontrolável e fica prestes a explodir de tensão, desejo, fantasia, vontade. Quando tudo isso irrompe nele, em um ponto que não dá mais para segurar..... ele decide agir. Se prepara por horas, rói as unhas, anda, senta, volta a levantar, senta novamente. Gira para um lado, gira para o outro. Seus dedos vão e vem nervosos. Decide. Ajusta o corpo. Prepara-se e finalmente...... ele digita alguma coisa. Depois apaga. Volta atrás, reconstrói cada palavra, repassa na cabeça o melhor tom, se uma vírgula ali pode causar má impressão. Uma exclamação talvez? Não sabe. Escreve várias versões, olha para todas, escolhe uma, copia e cola. Quando lê ali, não parece tão legal quanto ele imaginava. Volta e vê pela ducentésima vez o álbum de fotografias dela e fica mais tempo naquela foto da praia, com aquele sorriso lindo e o cabelo solto e molhado. Isso lhe dá forças, ele escolha qualquer uma, cola e depois de uma batalha homérica, aperta o Enviar: “me passa seu whatsapp” E no instante que manda, tem vergonha de si, fecha a página e finge que não fez nada, mas, vinte segundos depois, abre para ver se ela visualizou. Nada. E ela, que já tem um aplicativo que permite ler as mensagens sem que a outra pessoa saiba, explode de felicidade quando lê. Salta de alegria dentro do ônibus. Suas mãos vibram perto do peito. Tem vontade de falar com a pessoa ao lado, mas em vez disso ela escreve para todas as amigas. E feliz e contente vai falando, vai contando, vai curtindo. Mas, de repente ela para de sobressalto. Seu olhar recrudesce. O que eu repondo? Pronto, acabou a euforia. A dúvida é uma formiguinha caminhando nas entranhas...

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