Todo dia as nove e meia o pombo voava para seu ninho.
As nove e meia os alunos saiam para os pátios
e brincavam de escrever o futuro
em apertos de mãos, abraços, segredos e sorrisos.
As nove e meia um eco de vozes se espalhava pelas copas
das árvores
as crianças da zeladora apoiavam o queixo no portão.
E viam a algazarra dos outros as nove e meia
As nove e meia o aroma de comida invadia o refeitório
e as pessoas sentavam juntas à mesa... as nove e meia
Hoje voltei à
escola
seus
corredores estavam cheios de um silêncio fúnebre
um ar frio,
fraco e melancólico.
Para onde
foram todos? Fugiram?
E para onde
fogem os que não sabem onde ir?
Ando em meio a
quietude e ouço o choro dos muros
O pombo anda
despreocupado e vagaroso como eu
as crianças da
zeladora me sorriem, felizes por ver viva'lma
Até elas
sentem o vazio.
Olho de perto
as penas roçando o chão no vento brando,
Olho de perto a
mancha de pés na parede, a lousa apagada
o rabisco de
“eu te amo” na madeira surrada do batente
O amor
esqueceu-se no pé da porta
Olho a bola
presa no telhado, querendo despender-se
Olho a sala
vazia vista da lousa
Arrumadas,
solitárias e frias as carteiras sem o calor humano
O calor
perdeu-se no piso limpo
E então ouço o farfalhar de uma
pomba em voo
E ela passa apressada pela janela
inquieta. É nove e meia.
A escola é invadida bruscamente por
todas as memórias possíveis...
subindo pelas paredes e ocupando as
raízes das árvores,
os cestos de lixo e as quinas
recônditas
Inspiro fundo e encho meu pulmão de
histórias. É nove e meia.
A quadra vibra lembrando dos
tombos,
os muros se inflam recordando os
beijos lânguidos
as paredes trocam os segredos
ouvidos por tantos anos
o banheiro desenha no azulejo os
nomes confidenciados em sussurro
É nove e meia
Os alunos estão lá....milhares
seus sorrisos estão lá...suas
lágrimas
a poesia está lá e mais as
lembranças todas.
Há muita bola para ser chutada,
muito giz para ser gasto
muito chão para ser pisado e tempo
a ser vivido
as nove e meia
a escola estará sempre cheia as
nove e meia.
2 comentários:
Triste... Tu falas do silêncio ensurdecedor encontrado numa escola vazia, mas que antes, dias atrás, estava repleta de vários acontecimentos, dentre eles, nove e meia. Admirável sua descrição.
Penso que isto deve valer tanto para quando voltamos à escola que estudamos, quanto para a situação docente, na qual também se vive a vida do prédio.
=) gracias
Postar um comentário