César amava Robles. Robles tinha 21 anos, um ar juvenil e despojado, gostava de se fingir de morto no rio Paraguai. Até que alguém vinha e ele sorria. Um fanfarrão. César tinha 46 anos e era professor de Filosofia em uma universidade mais ou menos qualquer coisa. Grande, com cabelo que Salvador Dali invejaria, um óculos que Jô soares invejaria e um jeito pegajosos que ninguém jamais invejaria. Robles gostava de César, “entre quatro paredes esse menino se liberta” dizia César com comichões. Porém, Robles namorava a prima de César, uma senhoura de 55 anos, olhos verdes e muitas rugas pelo rosto. Poderiam julgar que ela era vó de Robles. Augustina, tinha um charme, é verdade, tolerava bem a bebida, simpática. Um triangulo amoroso, ou não, muito peculiar. Isso com todos sóbrios quando a cevada entrava e a cumbia subia, tudo ficava mais libertino.
Estávamos eu e Terry andando pela praça Coronel Tavares, depois de sair de um espetáculo de cabaré com uma simpática espanhola que gozava dos outros. E uma pianista jazzista magra como Carolina em seus tempos de anorexia. De graça na rua Estiarribia. No meio da apresentação a atriz chamou um cara para fazer um papel de macho que tinha ciúmes dela com um outro cara. O cidadão foi rebolando ao palco, se apresentou como “Moa”, mas se ouvia “Moah”, e completou.....Moacir. Uma flor daquela chamar Moacir é uma injustiça, coitado. Obviamente ele não conseguiu fazer o papel de macho, mas nos deu boas risadas. Saímos e fomos a um pub velho com arquitetura diferente, uma lage um espaço externo cheio de mesas e tocos de madeira. Um balcão minúsculo dentro com um monte de gente tomando uma Pilsen e fumando. Atendentes simpáticas mas as quais eu não conseguia compreender muito, senão pelo sorriso. Tomamos umas ervas nativas, alguns baldes de cerveja e mesmo no frio cortante daquele lugar, Terry disse que queria ir a um bar de karaokê que havíamos visto naquela tarde. Passando no meio da praça, dezenas de barracas de plástico preto. Imaginávamos o frio daquelas pessoas ali. Era uma mistura de praça da sé com acampamento cigano. Chegamos na rua Palma para descobrir que o karaokê já estava fechado, e era apenas 01:30 da manhã. Resolvemos perambular para achar algo de se beber. Passando em umas transversais ouvimos o som, a música inconfundível de Cúmbia. Terry se animou, fomos até o local. Era um porãozinho de nome “soundclub” um som alto, lotado de gente. Fomos entrando com alguns olhando e podíamos ler o pensamento deles. Essas pessoas não são daqui. O garçon banguelo e careca fez gesto que não. Não sabia se estava fechando, se não tinha mesa ou se não queriam a gente lá. Fiz que ia sair, Terry voltou e me puxou pelo braço. Entramos e nem perceberam. No balcão, uma senhora simpática dançava ardentemente com o seu companheiro, ou amigo, ou namorado, mais novo. A julgar pela intimidade deviam ter um caso. Pedimos cerveja e logo começou a tocar as músicas que tocam em qualquer lugar. Meio Jovem pan, as paradas de sucesso, e as músicas de qualquer baile...beeges, essas coisas. Na nossa frente, uma mesa com um rapaz de lábio leporino e cara de índio dançava com uma mulher de oncinha, gordinha, e ela fazia uma dança que podia ser tudo menos sexy. O rapaz gostava. Na mesa ainda estavam César, Robles e Augustina . No Balcão, nos animamos quando a Cumbia voltou. Começamos a dançar e logo veio César com seu jeito tresloucado dançar conosco. Quando vimos, estávamos conversando, dançando. César com aquele 1,85 metros, uma saliência considerável na barriga, as roupas justas, o cabelo de Dali e o óculos do Jô Soares descia até o chão, mas não ganhava da moça da onça em termos de cenas horríveis de se ver. Robles cambaleava e Augustina parecia sóbria. Fui no banheiro e quando voltei tinha uma senhora com um vestido vermelho e um ar de luto, impassível em meio a bagunça do local e sentada ao lado do meu lugar no balcão. Terry lançou-me um olhar do tipo, “chega nela!”. Dei uma encostada de cotovelos na mesa, uma olhadela de lado, topei com aquele olhar de velório com batom vermelho e desviei pra ver Terry rindo da minha cara. Qué isso? Logo César já puxou Terry e tagarelava mais que a boca. Descobriu que éramos brasileiros e quis falar um português desastroso. César estava contando – não sei por qual motivo – o caso dele e do garoto. Que era muito difícil ser maricón naquele país...e aquela coisa toda. Ele a abraçava, virava o copo de Terry e dizia que isso era sinal de respeito. Aonde? Na minha terra isso aí risca a faca no chão. Xingue minha mãe mas não toque na minha bebida. O bar foi esvaziando, o banguela expulsou a gente e o casal do balcão acho que já estava no bem bom. Na rua, Casar falou par irmos ao Rústico, um bar aberto as 04:00. dissemos em uníssono “no tengo plata!!”. Tudo bem. Lá fomos nós, no meio do caminho, César abraça Terry e Robles. Augustina olha pra mim com um olhar sedutor escondido nas rugas. Digo a ela “de onde és?”. “De Argentina”... “usted son pares?” ela sorri e não responde. Na esquina, Robles pegou César e lhe deu um beijo...que o senhor ficou sem graça. Depois beijou Augustina. César quis abraçar Terry de novo, mas ela já se esquivava. Robles veio falar comigo que gostava de Chico Buarque e começou a cantar. Cantamos meia música até ele não ver o hidrante e cair com a cara no Chão. No rustico, a moça de onça e o índio fanho nos esperavam. Era um outro Karaokê, com gente jovem, mais bonita. Umas luzes rosas e até um mezanino. Tomamos a cerveja deles. Quando o papo virou para ir pra casa de alguém, pensei “vai dar merda”. Acho que Terry também...desconversamos e saímos do bar. Umas 05:30. Depois de uma caminhada no quarto coletivo em que ficamos Terry notou que tinha um gringo novo em uma das camas.
Tinha uma cara parecidíssima com o pequeno príncipe. De tarde quando acordamos, só deu tempo de sair e almoçar depois comprar uns vinhos para a noite, antes de sair novamente. Tarry ia convidar o Príncipe para tomar conosco. Íamos depois ao pub da noite anterior pois uma das atendentes estava simpática além da conta comigo. De noite, numa mesinha de frio eu fumava meu cigarro, Terry servia o vinho e o príncipe estava do outro lado da parede em um computador. Terry saiu decidida a chamar o moço, passou no quarto pra tomar coragem, mas quando voltou tinha alguém com o gringo. Ela não segurava a risada. Era o Moah. Chamamos todos à mesa, mas aí começou o problema. O príncipe era alemão, e além da língua dele só falava francês e inglês. Terry mandava bem no inglês e no espanhol. Moa era brasileiro, falava francês e espanhol. E eu só tinha uma boa intuição. Tomamos um vinho, o príncipe mandou buscar cervejas. Um falava francês depois em português, aí inglês, conversas paralelas traduções distorcidas. Mas deu pra se entender. O Moa era ator (mas não conseguiu fazer papel de macho) e trabalhava em Foz do Iguaçu. O alemão era grafiteiro, estava fazendo um tour pela América do sul. Mas o alemão era fajuto, primeiro porque ficou bebão – alemão que não bebe é meio estranho. Segundo, que ele mais era queria sair com o Moah. No frigir do ovos talvez o Moa conhecesse Robles e César, talvez não. Mas que foi muito peculiar, não há dúvidas. E se perguntarem, mas você foi no Paraguai para quê? Para guai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário