Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

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17 de julho de 2012

Manifesto anti nhem-nhem-nhem.


Sobre a proliferação do nhem nhem nhem, suas causas escusas e os argumentos contra sua disseminação indiscriminada.

Consideração preliminar.
Para tudo que está dito aqui há exceções. E para tudo que for dito até todo sempre haverá também.

Apresentação
Para fins deste tratado acadêmico-científico-apologético definimos o nhem nhem nhem como uma manifestação humana exacerbada de carinho para com as criaturas diversas do mundo, com destaque para os próprios seres humanos, animais de estimação diversos como cachorros, gatos e cavalos (no caso dos ingleses), vegetais mortos como rosas dentro de livros e objetos inanimados como tickets de cinema, ursos de pelúcia, papeis de bom bom e cartões postais.

Causas
Essas manifestações também conhecidas como “cuth cuth”, emos e, mais recentemente “Ohmg” ou Ooouuunn, encontram-se atualmente disseminadas na cultura global do século XXI e encontram suas causas em diversos aspectos:
  1. O superprotecionismo dos pais e mães da década pós revolução sexual que optaram por ter poucos filhos e os criaram como um tesouro a ser guardado para eles e não para o mundo.
  2. A tendência da biologia moderna em encontrar causas dos comportamentos humanos como a boemia, a psicose e a psicopatia relacionado às heranças genéticas. Esta defesa nociva faz muitas pessoas acreditarem que seus filhos serão alcoólatras, viciados e depressivos a revelia da criação dada. Esta perspectiva aumenta o zelo na criação da geração nehm nhem nhem.
  3. Esta geração tem tornado-se negligente à sua própria formação psicológica. Hoje, uma criança com qualquer desvio de comportamento é imediatamente encaminhada para um psicólogo. O profissional que mais cresce no mundo a medida que a incapacidade de lidar com o outro e consigo cresce também.
  4. A indústria cinematográfica, de seriados e novelas trabalha excessivamente com o esteriótipo cuth cuth, como um produto rentável. Não é novidade para ninguém, nos anais da publicidade que a partir do momento em que a sensibilidade humana é exaltada, sua suscetibilidade ao consumo aumenta. Prova deste fato encontra-se na grande maioria das propagandas de TV no Brasil.
  5. A união da criação protetora com o reforço cultural midiático a esta prática fortalece os movimentos Emos e legitimam o nehm nhem nhem como uma tendência global atual, o que defendemos que seja visto com cautela.

Diante deste quadro ultrassensível da esfera lacrimosa da sociedade alguns itens devem ser ponderados.

Artigos

  1. Filhotinhos de cachorros e de gatos crescem. Eles não entendem o que você fala com eles.

  2. A coca-coca quer um mundo feliz para que sua garrafa esteja na mesa de jantar.

  3. Roupas coloridas e letras de música sobre o sofrimento adolescente podem até ser verdadeiras, mas são sofrimentos adolescentes e roupas coloridas. Pedaços de pano não expressam uma relação sentimental.

  4. A memória é uma condição natural do ser humano e de outras espécies. Guardar objetos para te fazer lembrar de algo que foi marcante é colocar o passado acima do presente.

  5. (quase) Todos os credos, ideologias e nhem nhem nhens partem de uma premissa básica a ser contestada: o ser humano é decente. Sabemos que o mundo é desigual, que há fome, que há guerra, intolerância de todas as naturezas, individualidade em demasia, poluição global, capital de mercado, mendicância, corrupção e colonialismo (ponto). Postos os fatos, nossa tendência é fechar os olhos à nossa própria natureza e esquecer. O nhem nhem nhem com a foto de uma criança desnutrida na áfrica é senão, um nonsense.

  6. A morte é imponderável e definitivamente a maioria das culturas ocidentais não educou suas proles para este momento. O advento da “inteligência” humana, ou a capacidade de raciocínio foi um pacote comprado junto com a soberba de que somos especiais demais para apenas se decompor e aceitar a morte como natural.

  7. A monogamia se estabeleceu como um jogo de conveniências de famílias. Talvez a natureza do ser humano não seja essa. Com a mudança do quadro tradicional da família e propriedade, cada vez menos os matrimônios têm duração longa. A insatisfação crônica diante do posto move uma constante busca pelo novo o que torna os relacionamentos mais curtos. Entretanto, o choque entre o que acontece e o que historicamente “deveria” acontecer cria uma massa de homens e mulheres que “acreditam” na união eterna fazendo de tudo para que isso aconteça pela força do sonho, não pela realidade tangível.

  8. A vida não é uma novela ou um filme. As relações maduras passam por um período de conhecimento recíproco, o que quase nunca combina com nehm nhem nhem, mas sim com a seriedade de quem gosta, e portanto respeita a liberdade do próximo.

  9. O amor existe e é inegável. A paixão existe e é inegável. Isso não significa que tenhamos de lidar com ele como se lidássemos com os gatinhos, bebês, e camundongos. Seres humanos são racionais e emocionais, não panelas de cuth cuth.

  10. Ser sensível aos sentimentos e emoções não significa afinar a voz e entortar o pescoço.

  11. Ser interessado nas causas humanas não significa se emocionar com crianças fofas.

  12. A poesia lida com o universo das emoções na raiz da condição humana. Não confundir com correio elegante e frases de facebook.
Considerações finais
Não se pretende aqui pregar a racionalidade em detrimento das emoções, ao contrário pretende-se a não banalização deste e o aprofundamento da relações emotivas. O nhem nhem nhem é sobretudo um reflexo da superficialidade do universo dos sentimentos.

Este manifesto está aberto para alterações.
São Paulo, 17 de julho de 2012.

5 comentários:

Fabio Vivas disse...

Ler esse “manifesto” foi como revisitar mentalmente o livro que havia sugerido para o Vitor (Consumido - Benjamin R. Barber) e suas criticas sobre a sociedade atual, sobre esse capitalismo de consumo que reifica o ser-humano. Dito isto acredito que o Vitor usou sabiamente o titulo para chamar o leitor para uma problemática muito maior, ou seja, ao ler o texto tendo como referencia única o titulo, o que se espera é uma critica no máximo cultural das relações humanas e não a critica social aqui tecida.
Dito isto não vejo problema nenhum no tal do nhem-nhem-nhem, ele é legitimo quando o que se sente é legitimo e não cabe ao meu ver criticar essa entidade quando o objetivo final é criticar a relação sócio-capitalista.
Não quero dizer com isso que concordo com a tal da entidade, apenas que as pessoas envoltas nesse universo precisam refletir e ser atraídas não pela forma como manifesta seus sentimentos, mas pela forma que participa nessa sociedade de consumo, isso sim seria a minha singela opinião de um verdadeiro manifesto.
O que o Vitor escreve é um espetáculo muito bem escrito, com um titulo chamativo para criticar algo falando de outra coisa.

Matheus disse...

My brother... Esse fundo amarelo e essa fonte branca juntos são um atentado aos olhos. Tirando isso, classe A! Como sempre.

Roberto disse...

A criação superprotetora que nossos pais aplicaram foi na melhor das intenções... mas foi, de certa forma, errada... se você aprende "tomando tapa" seja dos pais ou de desconhecidos, automaticamente ficamos mais alertas diante dos empecilho...‎"tomando tapa" não quer dizer ser espancado !!! o sentido foi de ouvir bosta dos outros e saber falar ou se calar dependendo do ambiente ou pessoa que se trata em determinados lugares...
sahuashuashuashusahusa... cara, eu fui criado na base do talco, sopinha, Yakult, Biotonico Fontoura e tudo qnt é frescura... minha mãe é excelente... sem duvida... mas depois de uma certa idade, o que me ajudou muito foi a auto analise... tento ao máximo enxergar meus podres antes de falar bosta dos outros... aí fica mais facil e mais justo mandar alguém tomar no cuzinho qnd começa o "nhem nhem nhem"... kkkkkkkkkkkkkkk...
nunca deixarei de ser mimado... mas evito frescuras... por exemplo, o lance do psicologo... ISSO É FALTA DE SURRA CARALHO !!! hasushuashushuash...

Adriano disse...

Bom, você sempre me convoca para opinar, então mais uma vez dispus de meu precioso tempo em que poderia estar fazendo downloads do Breaking Bad para ler este teu Manifesto.Concordo com ele em todos os pontos e acrescentaria outros. Como muitos de vocês já devem ter percebido pelas minhas próprias bostagens(sic), é mais fácil eu insultar e vilipendiar esta bobageira tão bem acusada pelo nobre colega Vitor Machado, com adendo teórico que mais uma vez me convence da Grandeza de Marx quando disserta sobre a Alienação e o Fetiche da Mercadoria,(se observarem bem sua linha de raciocínio, ele praticamente conduz a situação obeservada ao viés patológico de que esta aberração Nhen Nhen Nhen está sempre agregada a algum tipo de objeto motriz desta besteirada toda) em seguida ao que vi porque em resumo o Manifesto é um corolário Marxista disfarçado de Manifesto Unabomber com direito ha Beatnikagens Selvagens típicas de um Mal Humor que considero positivo, saudável e amplamente reconhecido pela Convenção de Genebra como uma forma legítima de Guerra contra a Estupidez. Essa coisa de nhen nhen nhem para mim não passa de pura e total idiotice, resultado de uma ampla campanha da Sociedade de Controle bem sucedida após os fracassos do Maio de 68, do Naufrágio da Contra Cultura e da ascenção desta porra de Pós Modernidade que nenhum teórico da Pós Modernidade sabe explicar do que se trata, enfim. Arrisco-me ao Radicalismo de afirmar que Ter-se Paciência com Idiotas é uma Agressão contra a Inteligência e uma Ameaça Fundamental ao desenvolvimento da Espécie, além de ser uma clara violação da supracitada Convenção de Genebra e digna do Tribunal de Haia. Com exceção de mim e de meu Cachorro, Tiberius Wolf, por serviços prestados a este planetinha miserável, claro.

Dani disse...

Concordo do início ao fim. No entanto, aqui vai uma confissão: No dia a dia às vezes me deixo levar pelo tedioso nhem-nhem-nhem, por vários motivos velhos e conhecidos meus. Em alguns momentos você se cansa e apenas se deixa arrastar pela doce enxurrada de "amor" universal à todas as coisas e criaturas. Em outros, bem, é como você disse, ajuda na abordagem com as pessoas e na arte do convencimento, ou da manipulação, depende da situação.

O lado de dentro...sublime

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