Esbaldei meus versos enquanto pude.
Durante anos de minha curta estrada.
Palavras de amor que não eram nada;
delírios tolos da juventude
Pobre rima em ré entoada;
escondida atrás de um canto rude,
mas repleta de sede e atitude.
Transformou o acaso em coisa amada.
Hoje, quando aqueles versos revisito
vejo chama revestida de desejo
e mais astúcia do que hoje fito.
E, se o passado chegasse num lampejo,
desejaria que este verso aqui escrito
fosse mais inflamado do que hoje vejo.
Cada vez que recruto minhas loucuras, viagens e anseios com a experiência de qualquer coisa que não tenho, extraio disso uma destilação surreal. Escrevendo, sublimo essa coisa pelo ralo. A vagar por bueiros, ela encontra todo tipo de destilados da cidade, dos santos aos psicopatas. A amálgama humana se mistura, formando o mais intenso e real do pensamento e vai à superfície buscar as narinas dos transeuntes, mas são retidas pelas tampas dos bueiros que friamente censuram o regresso das idéias.
Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..
26 de março de 2012
20 de março de 2012
O que é o bonito?
O que é uma coisa bonita? De tantas pessoas neste mundo e tanto universo individual o bonito certamente não é unânime, mas há quem acredite que sim. O bonito pode brotar na sua varanda por entre montanhas numa lua cheia, ou no arranha-céu da grande cidade iluminada, ou ainda no pastoril movimento harmônico das ondas calmas de um mar azul. Muitas vezes porém, nossos turistas acham o cerrado bonito, a caatinga bonita, a favela da rocinha bonita. O bonito tem uma coisa de quem manda, um rosto de novela ou de Hollywood; um corpo de comercial, sarado e, quando na nossa vida passamos a buscar este valor estético, quase sempre não temos, remodulamos a beleza. O bonito é um bom adorno, um bom perfume, uma roupa suntuosa, colares, cabelos como aqueles de Hollywood. Para transformar a beleza com adornos é necessário dinheiro, e aí, a beleza é um instrumento de poder.
Quantas vezes você já ouviu de alguém de cabelos crespos dizer ter vontade de ter cabelos lisos? E de lisos dizer que queria ter encaracolados? Quantas vezes já ouviu de alguém que vive em uma cidade grande que deseja morar no interior? E alguém do interior dizer que não aguenta mais o pacato? Um dia encontrei um recifense que jamais foi à praia e trocaria tudo para deixar recife e viver em São Paulo; outro dia encontrei um morador do Vidigal que tem, para muitos, uma das visões mais bonitas do Brasil e para ele, a beleza seria ter os filhos em uma escola melhor, um emprego e não ser baleado pela polícia, milícia ou bandidos. A beleza tem alguma coisa de secundarismo para aqueles que sofrem – e todos sofrem em certa medida. Apreciar o bonito requer estar bem. Muitas vezes as grandes mansões estão recheadas de solitude e vazio. Muitas vezes os barracos imundos estão repletos de miséria que impedem qualquer boniteza de adentrar. Muitas vezes, a saída do rico depressivo ou do miserável, é acreditar que após a morte lhe esteja reservado o paraíso, lá, obviamente, tudo é bonito. O bonito também é perverso.
Na mitologia grega, de tanto temer a morte e desejar a imortalidade, Sísifo trapaceou os deuses e conseguiu viver mais do que um humano normal. Porém, diante de Hermes e, este, ciente de todas as trapaças, conseguiu enfim a imortalidade desejada, mas nela, teria de passar todo o sempre carregando uma pedra para o alto de uma montanha íngreme, na qual ela sempre rolaria para baixo e ele teria de voltar a buscá-la e levá-la novamente para cima. Desejou morrer com todas suas forças, mas não podia mais. O bonito tem algo que nos dizem ser bom, mas também, algo que não para no tempo.
O bonito tem qualquer coisa de moralidade. É bonito ajudar o próximo, acolher uma criança com câncer ou um cachorro ferido na rua. E, perversamente, essa moralidade por de trás da solidariedade revela que ajudar os outros nos faz bem, nos sentimos curiosamente mais que os outros no momento em que ajudamos. Seja o amigo em crise, seja o dinheiro ao mendigo. Não experimentamos aquela vida, apenas aludimos de fora para nos sentir bem....bonitos. Afinal, não desejamos intimamente ter câncer, nem morar na rua, nem viver em crises existenciais.
Ao acordar na praia na casa de uma amiga em florianópolis e ver a simplicidade daquela vida, vislumbrei, anos atrás, como minha vida não era bonita. Cercada de contas, de subterfúgios vis para a felicidade. Mas nenhuma vida é cercada pela beleza. Nenhuma vida é bela. O bonito talvez fosse uma palavra antiga, daquelas que representam ideias antigas como a apreciação artística clássica. Poderíamos talvez banir o bonito dos dicionários mundiais. O bonito reside na forma como a cada dia olhamos o mundo e nos relacionamos com ele. Tempo a tempo, a cada dia um bonito diferente e que mude para todo o sempre. O bonito não é perene e nem deve ser. Sempre que tiver com pessoas queridas, esteja bem. Se um carro lhe faz bem, esteja bem; se apreciar um bom vinho com sua amante, esteja bem, ela ou ele lhe parecerá bonito. Mais importante que ser ou estar bonito, é estar bem a ponto de não lembrar da beleza. Independente das mazelas sociais, psicanalíticas ou culturais sempre há espaço para estar bem. Bem com sua causa de vida, com suas amizades, com sua beleza subjetiva. O bonito é para quem pode. Ou não, o que você acha?
Quantas vezes você já ouviu de alguém de cabelos crespos dizer ter vontade de ter cabelos lisos? E de lisos dizer que queria ter encaracolados? Quantas vezes já ouviu de alguém que vive em uma cidade grande que deseja morar no interior? E alguém do interior dizer que não aguenta mais o pacato? Um dia encontrei um recifense que jamais foi à praia e trocaria tudo para deixar recife e viver em São Paulo; outro dia encontrei um morador do Vidigal que tem, para muitos, uma das visões mais bonitas do Brasil e para ele, a beleza seria ter os filhos em uma escola melhor, um emprego e não ser baleado pela polícia, milícia ou bandidos. A beleza tem alguma coisa de secundarismo para aqueles que sofrem – e todos sofrem em certa medida. Apreciar o bonito requer estar bem. Muitas vezes as grandes mansões estão recheadas de solitude e vazio. Muitas vezes os barracos imundos estão repletos de miséria que impedem qualquer boniteza de adentrar. Muitas vezes, a saída do rico depressivo ou do miserável, é acreditar que após a morte lhe esteja reservado o paraíso, lá, obviamente, tudo é bonito. O bonito também é perverso.
Na mitologia grega, de tanto temer a morte e desejar a imortalidade, Sísifo trapaceou os deuses e conseguiu viver mais do que um humano normal. Porém, diante de Hermes e, este, ciente de todas as trapaças, conseguiu enfim a imortalidade desejada, mas nela, teria de passar todo o sempre carregando uma pedra para o alto de uma montanha íngreme, na qual ela sempre rolaria para baixo e ele teria de voltar a buscá-la e levá-la novamente para cima. Desejou morrer com todas suas forças, mas não podia mais. O bonito tem algo que nos dizem ser bom, mas também, algo que não para no tempo.
O bonito tem qualquer coisa de moralidade. É bonito ajudar o próximo, acolher uma criança com câncer ou um cachorro ferido na rua. E, perversamente, essa moralidade por de trás da solidariedade revela que ajudar os outros nos faz bem, nos sentimos curiosamente mais que os outros no momento em que ajudamos. Seja o amigo em crise, seja o dinheiro ao mendigo. Não experimentamos aquela vida, apenas aludimos de fora para nos sentir bem....bonitos. Afinal, não desejamos intimamente ter câncer, nem morar na rua, nem viver em crises existenciais.
Ao acordar na praia na casa de uma amiga em florianópolis e ver a simplicidade daquela vida, vislumbrei, anos atrás, como minha vida não era bonita. Cercada de contas, de subterfúgios vis para a felicidade. Mas nenhuma vida é cercada pela beleza. Nenhuma vida é bela. O bonito talvez fosse uma palavra antiga, daquelas que representam ideias antigas como a apreciação artística clássica. Poderíamos talvez banir o bonito dos dicionários mundiais. O bonito reside na forma como a cada dia olhamos o mundo e nos relacionamos com ele. Tempo a tempo, a cada dia um bonito diferente e que mude para todo o sempre. O bonito não é perene e nem deve ser. Sempre que tiver com pessoas queridas, esteja bem. Se um carro lhe faz bem, esteja bem; se apreciar um bom vinho com sua amante, esteja bem, ela ou ele lhe parecerá bonito. Mais importante que ser ou estar bonito, é estar bem a ponto de não lembrar da beleza. Independente das mazelas sociais, psicanalíticas ou culturais sempre há espaço para estar bem. Bem com sua causa de vida, com suas amizades, com sua beleza subjetiva. O bonito é para quem pode. Ou não, o que você acha?
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