Sim! O fim do mundo está aí para que possamos apreciá-lo e nem nos damos conta disso. Como diria Vinicius de Moraes, a gente mal nasce e começa a morrer. E a Terra minha? Tão pobrinha? Vontade de niná-la, de ver seu sono enquanto ela morre silenciosamente. O mais ingênuo nietzschiano diria que esse corpo Gaia que é a Terra mal nasceu e está morrendo. Um geólogo discordaria, um antropólogo concordaria e eu, que não sou nada, acho uma bobagem o fim do mundo. Pergunte-se: Se uma árvore caiu em um bosque desabitado, ela emitiu som ao cair? Como podemos saber se não havia ninguém para ouvir? Se você morrer, o mundo continuará existindo? Como pode ter certeza? E se toda a humanidade morrer, o mundo continuará existindo? O mundo o universo e as coisas existem à revelia dos nossos sentidos? Se você achar que sim, acabou de se saber minúsculo e insignificante perto da grandeza do universo e do infinito tempo que há por aí. Mas, pera aí. O tempo é longo e o universo é grande... mas quem disse isso? Nós, oras. Mas, e se... nós, que pensamos o universo, morrermos todos, ele continuará existindo?
Um marxista poderia dizer que o mundo está acabando desde que nasceu um sistema desigual que acomete a natureza em prol do lucro. Um psicanalista poderia argumentar que o mundo está acabando pela nossa gana velada de querer ser mais que os outros e, somente por isso o capitalismo sobrevive. O mundo está acabando, sim, mas 2012 não é nada, não será nada senão especulações esotéricas. Se você iniciou este ano pensando que talvez o mundo pudesse acabar. Esqueceu-se de um detalhe: ele já está acabando.
Olhe para trás. Longe? Não. Olhe um ano atrás, em 2011. Olhe e veja uma primavera abrindo flores novas no mundo árabe. Milênios de cultura obediente e devota. Uma panela de pressão de mais de 2000 anos implodida por novos sonhos, novas influências do mundo globalizado. Veja o ícone da tecnologia mundial sujeito a tsunamis e sendo vítima da falha de sua própria tecnologia quando esta, deixou Fukushima sob a rosa desprendida da primavera radioativa. Veja que o símbolo da tecnologia e do desenvolvimento, o Japão não teve ao menos quem o ajudasse, por quê? Por que quem deveria ter dinheiro e poder não tem mais. Um império e um sistema se convalescendo pelas mãos de seu próprio filho: o sistema financeiro. Veja que, paradoxalmente, enquanto vão falindo os especuladores, o berço da cultura ocidental chora na sarjeta. Cortes na aposentadoria, cortes no salário, cortes em tudo para quem jamais, sequer chegou a mexer com bolsas de valores.
A Grécia chora, a Itália chora, Portugal chora, a Espanha chora....coincidentemente países que já foram impérios mundiais. O atual império chora e sua lágrima é ácida. Corroi empregos, casas, famílias e unifica pessoas de todos os credos, cores e tendências políticas em torno de Wall Street para dizer: “nós não sabemos o que fazer. Não temos o que fazer. Ajude-nos”. Nem mesmo com o símbolo do inimigo invisível morto e jogado ao mar por um ganhador do premio nobel da paz foi capaz de alentar aqueles mundos em degredo. O fim do mundo? Sim.
O mundo é tão grande quanto a mãe que não consegue alimento para seu filho. Tão grande quanto o peixe que morre perpassado por urânio; tão grande quanto a praça Tahrir; tão grande quanto a Grécia helênica e a roma antiga; tão grande quanto as grandes navegações que afundam no capital financeiro sem dono.
Não conseguimos ter certeza se a árvore caiu, se o universo que inventamos continuará ou se a morte do mundo é uma explosão. Imagine então que não fazemos nada com aquilo que conseguimos ter certeza. Com o que vivemos, testemunhamos e assistimos. O mundo está acabando na nossa frente e a nossa cabeça covarde se esconde dos fatos. No fundo, esperar que o sol exploda ou que um cometa venha e devaste tudo, ou que a terceira guerra varra o planeta, pode ser tão somente nossa esperança escondida de que se isso acontecer, podemos nos eximir de nossa culpa procrastinada. Ou não. O que você acha?
Um comentário:
Primeiro texto do ano para a revista. O que? agora com maior circulação..em Atibaia e Perdões
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