Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

10 de novembro de 2009

João da Britadeira

João,

Tinha problemas de tremedeira.

Mas sempre teve os pés no chão


Nunca faltou com seu dever

Nunca fez brincadeira

Nunca demonstrou emoção.


Chegava no trabalho adiantado

Encarava nos olhos a massa de cimento

E ligava sua britadeira.


Era caco pulando, cortando a mão

Uniforme cinza, olho atento

Dentes a mostra... rosto esticado.


De chão ele conhecia;

Alisava, batia, cheirava

Ouvia o eco do batimento.


Chegou em casa certo dia

Sentou no sofá como de costume

Mas seus pés estavam balançando.


Sua mulher não tinha tino de escrava

Espalhou seu perfume em casa

Fugiu pro outro lado do morro


E agora, o chão que João construiu

Alto e imponente na favela

Só servia pra pedir socorro.


Pra quem tanto conhecia

Nem sabia onde punha os pés

E onde amarrava seu gado


“Mas essa coisa de saudade

Parece até água benta

Amolece até cajado”


E é à saudade que se afivela

Que João mandou um recado.


“Chão de polenta ainda não existe

E não vou ficar mais triste

Prefiro o chão azulado”

Nenhum comentário:

O lado de dentro...sublime

O lado de dentro...sublime