Tinha problemas de tremedeira.
Mas sempre teve os pés no chão
Nunca faltou com seu dever
Nunca fez brincadeira
Nunca demonstrou emoção.
Chegava no trabalho adiantado
Encarava nos olhos a massa de cimento
E ligava sua britadeira.
Era caco pulando, cortando a mão
Uniforme cinza, olho atento
Dentes a mostra... rosto esticado.
De chão ele conhecia;
Alisava, batia, cheirava
Ouvia o eco do batimento.
Chegou em casa certo dia
Sentou no sofá como de costume
Mas seus pés estavam balançando.
Sua mulher não tinha tino de escrava
Espalhou seu perfume em casa
Fugiu pro outro lado do morro
E agora, o chão que João construiu
Alto e imponente na favela
Só servia pra pedir socorro.
Pra quem tanto conhecia
Nem sabia onde punha os pés
E onde amarrava seu gado
“Mas essa coisa de saudade
Parece até água benta
Amolece até cajado”
E é à saudade que se afivela
Que João mandou um recado.
“Chão de polenta ainda não existe
E não vou ficar mais triste
Prefiro o chão azulado”
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