Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

28 de abril de 2008

E as rosas sorriem...

Olhar uniforme....vermelho.... por sobre as rosas.
Silêncio, vento, balançar suave.
Distância paciente da maré de dentro.
perguntas de dentro.
Os espinhos perfurando dos lados
Os espinhos perfurando dentro.

Um dia, um poeta espetado chorou.
- As rosas são tristes.
A rosa lhe sorriu de volta.
Embora sorvesse seu sangue.

Firmando sobre terras turvas
Pulam os homens
- que lindo! Quantas rosas..parece um mar vermelho.

Vermelho é. Vermelho permanece
E a rosa ri. Seu riso é dor.

Nas ondas, nas minhocas, nos pulgões
Nos espinhos.
As rosas sorriem.
Lhe vêm a foice e as rosas sorriem,
A declaração de amor acompanha um riso.
O choro acompanha o riso.
O quarto acompanha o riso.
O silêncio na cama acompanha o riso.

A turgescência acompanha o riso
As pétalas caem, cai o riso.
Resta o galho...seco...áspero.
Esturricado.
Velando a cama lisa.

11 de abril de 2008

Vendo cigarro, R$0,10! Masso R$1,50

Não era uma avenida movimentada, nem mesmo uma rua comercial. Não havia pessoas dispostas a comprar nada e, as poucas que havia, passavam rápido mirando a sombra no chão. O que dizer lá de dentro? Não havia sequer pessoas com dinheiro para gastar. As poucas moedas que existiam dentro daquele lugar, com pouco mais de cem pessoas, estavam perdidas em bolsos duros, sujas em cada ranhura, raspadas, deformadas e, ainda assim, eram moedas. Apanhadas por mãos tão grossas quanto a sola do pé, tinham em si os olhares mais distantes.

Albergue municipal, dizia a placa grande. Vendo cigarro R$0,10! Masso R$1,50, dizia a pequena. E o dono desta esnobava em dizer que não havia necessidade de uma placa para pessoas como aquelas. Ele, mesmo se alimentando e repousando diariamente naquele albergue, terminava o café mais cedo e saía para “trabalhar”, um passo a frente e lá estava ele na porta do lugar diante da fila de pessoas. Umas descalças, outras bem vestidas, desempregados, bandidos, homens de bem, mulheres grávidas, negras e loiras de pés imundos, cachorros nas carroças, crianças despenteadas com ranho nas blusas manchadas.

O homem abriu um banco de sacola de feira, sentou na porta do albergue e cruzou os braços com um leve sorriso no rosto. Olhava, olhava, fitava cada pessoa da fila. Todos cabisbaixos, expostos aos olhares perfurantes dos transeuntes, conversando baixo, inebriados num silêncio imposto por algo. Aquele ser ficava ali com sua placa, barba rala, gordo, pele oleosa, um boné da caixa econômica federal salpicado de cândida, blusa de lã furada, havaianas nos pés com unhas encavaladas, marrons e porosas, cascas pretas entre os dedos e, ainda assim, cruzava os braços e ria.

- Até a praga no mato precisa terra seu doutor – foi a resposta que deu a um senhor politizado que veio lhe indagar sobre arrancar o pouco dinheiro que aquelas pessoas tinham. O silêncio do doutor significou compreensão – essa é a vida doutor! Eu tô aqui porque tem gente que tá lá! (apontava a fila) E elas qué comprá.

Nada que o Pobre doutor dissesse teria efeito ou sentido. O gordo ria em êxtase silencioso, lábios em U, cabeça baixa. Fitava novamente a fila e ria. Não havia por que rir, e Ele ria. Não havia ninguém comprando, e Ele ria. Não havia sistema operando, e Ele ria. Não havia sequer cigarros.... e....
.................................................................Ele
..............ria.

O lado de dentro...sublime

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