Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..

17 de setembro de 2007

Angústia.

Este texto foi escrito quando eu tinha 17 anos. Momentos conturbados, embriagados e estranhos cercam uma realidade dolorosa. Um adolescente metido a besta não consegue entender o mais simples e complexo questionamento: “O que sente cada ser?” a ponto de gerir sua vida a partir disso. Chocar-se com a realidade do outro é chocar-se com a própria? Vidas moribundas representam necessariamente sentimentos moribundos?.....não, não quis a resposta, apenas vi, senti, vivi.
No fim das contas, uma experiência de escrita interessante (de louco), mas não em sua competência desenvolvida. Conselho meu é que se leia primeiramente os versos, depois só as prosas e, por fim, o texto conjunto verso-prosa. Mas quem sou eu para aconselhar alguém....digo que foi essa a idéia.
Comentários são bem vindos!!! Boa leitura.





Angústia


Os tragos descem lentamente
Em ritmo esparso,
Sacodem o estômago
Fluem descontínuos no deserto de mim.
Encontram meu gélido olhar.
E somam-se os vazios...

As pessoas formigam ao meu redor. Falam, brincam, riem, cantam, bebem, fumam. O bar está repleto deles. À minha frente, um grupo jovem; um rapaz alto de camisa xadrez e espinhas na face inteira...bêbado, outro com uma franja na testa recolhido, introvertido, ombros curvados; uma moça clara, baixa de cabelos chanel vermelho, com uns óculos pretos quadrado, bermuda e uma tatuagem de uma rosa na batata da perna direita, outra gordinha, outra magrinha, outro bêbado,
Outros tantos e, no entanto, pareciam os mesmos.

Adiante, diversos grupos sentados nas mesas, conversando – uns mais, outros menos – ao meu lado o mais instigante: a rua, impossibilitada de ocupação humana devido ao movimento maquinal dos carburadores. E estes, em suas velocidades sem destino, divagavam qualquer tentativa de foco. Saí dali.

Aonde o sentidos se misturam,
A realidade venta, a incerteza compassa,
Risos abraçam o silêncio.
Ondas quebram na garganta,
Gargantas cortam o vácuo;
O vácuo rasga meu tímpano.

Caminhei sozinho por um tempo, tremendo de dúvidas. O vento ardia a superfície de minha pele. Eu de braços cruzados sentia um profundo enjôo, uma náusea existencial: aqueles que me cercam nem ao menos me conhecem, nem ao menos se conhecem. Preocupam-se com o vento, afinal este lhes desarranja os cabelos engomados. Para mim ele é muito mais rijo, sôfrego, torturante a ponto de roubar o doce aroma do jardim que ainda habitava meus pulmões. Eles se preocupam com a música que lhes extasiava como o álcool. Mas talvez por isso sejam mais felizes, menos intrigados e incontestavelmente mundanos. Meus passos me levaram de volta ao mesmo lugar, ao mesmo copo e à tristeza mais aguda. Não eram mais ondas a caminho dos meus olhos, mas um rio de entorpecentes, era muito duro, não queria enxergar aqueles aparentemente felizes. Bebia para ofuscar o que me chegava aos olhos. Tudo piorou.

Almas aladas vagam sorridentes,
Cospem o furor de suas vidas moribundas
Gritos de socorro fantasiados,
Heavy, rock, bob, toque, hard core.
Mugidos universais
De comas unilaterais

Ahhhhhh aquela música é muito boa! Clama uma moça de cabelos vermelhos do meu lado, tirando-me da viagem a qual me haviam compelido. Tento olhar as faces novamente, não consigo! O efeito da ingestão vem à tona, esfrego os olhos...nada. Desespero inabalável. Fecho os olhos, curvo a cabeça. Encontro um breu, uma luz central indicando uma escada que desce – provavelmente a tampa de um bueiro – desço. Lá nada é igual...o silêncio é paz, calmaria, dúvida. Entre um escuro e outro surgem dois claros olhos, a ponta de um nariz delgado...você. Um olhar, um sorriso, um gesto e estamos flutuando no breu, no escuro, no nada. Dois corpos, ou um...não sei mais. Enlevo de névoa e vento nos canaviais, a gente flutuando, subindo, subindo, subindo até o ventre de Eros. Fúnebre sensação...intenso desejo. O mundo dessa cabeça retardada é muito melhor, é mais vida, é mais calmo, é mais mundo....não posso, não quero não devo, não posso...tarde demais. Levantei a cabeça...o fim.

E a ilusão do mundo daqui
Galga vida no mundo de lá
Sonhos, álcool, misturas bipolares
Pesam, comprimem, trancam meus olhos
Para não mais abri-los.

Vitor Fabricio (23/05/2004)

3 comentários:

Anônimo disse...

Algum motivo especial para escolher este texto?
Parece que o Vitor mudou desde então.. não sei, mas é o que eu acho.
Um beijo grande

locker disse...

Cara muito bom seu texto em
se eu entendi oq vc quis dizer e muito bom msm eo q a maioria dos jovem fazem uns consegue enxergar atraves da bebida outros soh consegue ver a bebida e nada mais ...flw
abraçoss

Anônimo disse...

Infelizmente o tempo passa! É saber que ver o que não foi visto e entender o que deveria ter sido entendido já não muda nada. O que nos resta é o futuro, que pode trazer mudanças e certezas, ou nada.

O lado de dentro...sublime

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