Chico, quis que lesse isso...talvez seja bobo, mas é o que sinto neste instante.
Embora eu seja parte do meu ambiente, fujo do mimetismo. Como escultura em alto relevo, busco me destacar.
Como nas minhas músicas favoritas, arrisco expressões e gritos que tenham algum efeito.
Como se pela visão de olhos bêbados, busco algum movimento para o meu caminho.
Como numa alucinação entorpecente, busco cores aleatórias.
No fim das minhas frases, porém, percebo que não sou nada de concreto, não sou nada audível, não sou um conselho sóbrio.
Alienada é o que sou.
Não porque tenha me alheado da vida e do mundo que acontecem e se deterioram.
Porém, enlouquecendo, deterioro-me com eles.
Sento-me em frente ao espelho, e já não tenho gosto de olhar para o que está diante de mim.
Mastigando estes pensamentos como se fossem areia, deixo-me atrair pelo chão, que divide seu frio com meu corpo.
Percebo que essa massa, cujo rosto eu não quero ver, cujos olhos não posso encarar, é o que realmente vive.
E então, espere!
Movimento-me, toco-me no colo, olho meus pés, meus joelhos, minhas mãos, meus ombros.
Enxergo do meu nariz à extremidade dos meus lábios.
Eu sou um instrumento, e não preciso ver minha imagem refletida para saber disso. Alcanço qualquer parte do meu exterior e também dos meus sentimentos.
Eu posso ser tudo aquilo que quiser!
Já não preciso sentir frio para saber que estou viva.
Descubro que posso rodear meus braços por um corpo abrasador tão logo me coloque de pé em sua direção.
Sou feliz assim que penso existir realmente.
Descubro a cada dia que o que posso está sob minhas escolhas, e não sob meus talentos. Não está sob uma vida de aparências.
Assim, deixo que minha imagem se vá no sumidouro de um espelho muito gigante, enorme, a ponto de não comportar o que sou.
Engolindo os segundos, e os dias, e os anos, degrado e regenero meus pensamentos sobre mim mesma, vivendo uma verdadeira roleta russa.
Ideias mil se me apresentam.
Espero privilegiar as boas, sempre!
“Chegando na encruzilhada
eu tive de resolver:
para esquerda eu fui, contigo.
Coração soube escolher”
(Guimarães Rosa)
Um beijo
Espero logo conhecê-lo
(Rara)
Cada vez que recruto minhas loucuras, viagens e anseios com a experiência de qualquer coisa que não tenho, extraio disso uma destilação surreal. Escrevendo, sublimo essa coisa pelo ralo. A vagar por bueiros, ela encontra todo tipo de destilados da cidade, dos santos aos psicopatas. A amálgama humana se mistura, formando o mais intenso e real do pensamento e vai à superfície buscar as narinas dos transeuntes, mas são retidas pelas tampas dos bueiros que friamente censuram o regresso das idéias.
Bueiros paulistanos inspiram vozes destiladas..
10 de maio de 2012
Assinar:
Postagens (Atom)